Marcos Agostinho
Da Agência Brasil
Brasília - No ano passado, o número de doadores de órgãos foi de seis por 1 milhão de habitantes, menor do que havia sido em 2005: 6,3 por milhão. Os números são da Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO).Em entrevista ao programa Revista Brasil, da Rádio Nacional AM, o secretário-geral da entidade, Paulo Massarolo, disse que a redução é "preocupante", já que a fila de pessoas que esperam doações não pára de crescer.“Essa taxa é insuficiente para atender nossa demanda de transplantes. Há mais de 60 mil pacientes na lista de espera e atualmente esse número permite atender a apenas 10% desse total”, disse.Massarolo destacou que o índice fica muito abaixo dos Estados Unidos, onde há 23 doadores por milhão de habitantes, e da média européia, que gira em torno de 20 doadores. Segundo ele, vários fatores podem explicar o baixo índice de doações.Dentre esses fatores ele colocou a recusa familiar, que chega a 30%, as sub-notificações médicas, ou seja, pessoas que têm morte encefálica, mas médicos não fazem a notificação a tempo, mesmo sendo obrigados por lei. “Se todos os casos [de morte cerebral] fossem notificados, nós poderíamos dobrar o número de doadores”.Outro ponto que impede as doações em decorrência de morte cerebral, segundo Massarolo, é a manutenção inadequada dos pacientes nesse estado. É necessário manter artificialmente a respiração e os batimentos cardíacos, para que os órgãos possam ser utilizados posteriormente.“Muitas vezes os hospitais não estão aparelhados para desempenhar essa tarefa e os órgãos se perdem devido ao cuidado clínico inadequado dos doadores. Isso [a manutenção adequada] só irá acontecer com a melhora do sistema público de saúde”.Massarolo acredita que campanhas educativas poderiam diminuir os casos de recusa familiar, mas defende que essas campanhas sejam duradouras e voltadas para a educação básica, já que algumas dessas iniciativas apresentam apenas efeitos efêmeros e transitórios.Ele lembrou que o diagnóstico de morte encefálica, que muitas vezes causa desconfiança dos familiares do possível doador, é feito no Brasil com muito rigor. Segundo ele, são exigidos exames dispensados em outros países para dar garantia absoluta ao diagnóstico, além da assinatura de dois médicos independentes e que não possuam nenhum vínculo com equipes de transplante, entre outros.