Jovens católicos defendem uso da camisinha, um tabu para a Igreja

07/05/2007 - 19h14

Sabrina Craide
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Apesar de a idéia ser combatida pela Igreja, 96% dos jovens católicos brasileiros são favoráveis ao uso de camisinha para evitar gravidez e doenças sexualmente transmissíveis. Esta e outras constatações estão em uma pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope) sobre o pensamento da juventude católica em relação a sexualidade e reprodução, feita a pedido da organização não-governamental feminista Católicas pelo Direito de Decidir.A pesquisa foi realizada entre novembro de 2006 e janeiro de 2007 e ouviu 1.268 jovens católicos em 315 municípios brasileiros. Os pesquisadores constataram que 88% dos entrevistados acreditam que uma pessoa pode usar métodos anticoncepcionais e continuar sendo boa católica, outra prática não aprovada pela Igreja Católica. Também foi verificado que 81% concordam que jovens com menos de 18 anos tenha o direito de ter acesso à camisinha e outros métodos anticoncepcionais sem a autorização dos pais.O tema da abstinência sexual antes do casamento também foi abordado. A pesquisa detectou que 79% dos jovens não concordam com a determinação da Igreja que só se pode fazer sexo depois do casamento. O aborto, outro tema polêmico, também foi objeto de perguntas. Pelo resultado, 62% dos jovens católicos entrevistados não concordam com a prisão de uma mulher que recorra ao aborto. O mesmo percentual respondeu que, ao condenar o uso da camisinha ou outros métodosanticoncepcionais e sexo antes do casamento, a Igreja assume umaposição atrasada.Para a representante da ONG que encomendou a pesquisa, Dulce Xavier, o resultado é reflexo do distanciamento da hierarquia da Igreja da realidade cotidiana dos jovens brasileiros. Para ela, o principal benefício da pesquisa será informar a população que a fala da hierarquia católica não corresponde mais ao que pensa a base da Igreja. “Vai auxiliar até mesmo o trabalho dos parlamentares que votam leis relativas a planejamento familiar, direito sexual, direito reprodutivo”, avalia Xavier.Ela conta que a pesquisa foi motivada pela percepção de que a população católica não obedece mais às normas da Igreja. “Quisemos fazer essa pesquisa especificamente com os jovens para ter uma idéia mais clara de como eles encaram essas normas que a Igreja Católica coloca sobre os direitos sexuais e reprodutivos. Nossa constatação é que os jovens têm posição bastante liberal nesse campo e não seguem o que a Igreja coloca como normas nesses casos”, explica.Os resultados da pesquisa preocuparam a Igreja Católica. De acordo com o arcebispo de Palmas (TO) e integrante da Comissão de Evangelização da Juventude da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil, dom Alberto Taveira Corrêa, os números representam um desafio novo para a Igreja Católica brasileira. “Se nós chegamos à conclusão de que um numero tão grande de jovens diz que é de acordo com coisas que não correspondem à orientação moral da Igreja, maior é o nosso desafio, mais nós temos que assumir essa responsabilidade de evangelização, de chegar com a nossa palavra e com o anúncio do Evangelho aos jovens”, avaliou.