Beatriz Mota
Da Agência Brasil
Rio de Janeiro - O coordenador do Observatório de Favelas, Jorge Luiz Barbosa, disse hoje (7) em entrevista ao programa Redação Nacional, da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, que as estratégias adotadas recentemente pela polícia do Rio de Janeiro não vão acabar com a ação dos grupos criminosos na cidade. Há seis dias policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope) da Polícia Militar estão ocupando a Vila do Cruzeiro, no Complexo do Alemão, zona norte da cidade, em operação contra o tráfico de drogas na comunidade. Na troca de tiros entre os homens do Bope e os traficantes foram registradas mais de 30 vítimas, das quais quatro morreram, entre elas um policial. O Observatório é um instituto criado em 2001 para produzir e divulgar informação científica sobre favelas. Segundo o coordenador, operações como essa criam um estado de guerra para os moradores e mostram um despreparo da polícia. "A estratégia de confronto só traz terror à comunidade. É preciso uma ação oposta a dos bandidos e, para isso, os policiais devem ser capacitados para serem mediadores do conflito e não seus estimuladores", disse.Jorge Luiz Barbosa é de opinião que a ação dos grupos criminosos e das milícias, que segundo o coordenador ocupam mais de 90 comunidades do Rio de Janeiro, só poderá ser interrompida com a presença do Estado nas comunidades por meio de políticas sociais mais abrangentes."Nós vivemos numa condição de barbárie, e esses grupos entram no vácuo de poder deixado pelo governo. As comunidades precisam de outras condições de exercer a cidadania, e nesses espaços, sobretudo ao longo da Avenida Brasil, onde é localizada a Vila Cruzeiro, não existem um teatro, um cinema, uma biblioteca", ressaltou. De acordo com o pesquisador, entre as medidas que devem ser tomadas pelo Estado nas comunidades estão o estabelecimento de uma ação investigativa para o impedimento de circulação de armas e drogas, a proteção dosadolescentes para que eles não ingressem como empregados no tráfico e a ocupação cidadã, caso haja guerras e tiroteios entre grupos armados. "Esse conjunto de investimentos garantirá a soberania do Estado e integrará as favelas ao tecido da cidade, impedindo que ações dos grupos armados possam de reproduzir", afirmou Barbosa.