Juliane Sacerdote
Da Agência Brasil
Brasília - Os índios guarani-kaiowá liberam hoje (16) a estrada MS-289, que liga Amambaí a Coronel Sapucaia, no sudoeste de Mato Grosso do Sul. O fim da ocupação da estrada, que durava desde sábado, ocorreu após negociações com o procurador da República, Charles Pessoa.Os indígenas protestavam contra a decisão judicial que negou o sepultamento de Kurutê Lopes, de 70 anos, nas terras da fazenda Madama, local do assassinato. A área é considera pelos índios como tekoha (terra de ocupação tradicional dos Kaiowá) e é chamada de Kurusu Amba. Sem definição, os Kaiowá acabaram sepultando Kurutê Lopes, sábado, perto da aldeia, segundo o administrador regional da Fundação Nacional do Índio (Funai), Gildo Martins.O administrador da Funai afirma que, mesmo assim, as negociações se seguiram em clima tenso. Mas nega que tenha sido mantido de refém, como foi noticiado pela imprensa na noite de ontem. "Fui para conversar com os índios e convencê-los a liberar a estrada. Eles exigiram a presença do procurador [Charles Pessoa] e pediram que eu esperasse a chegada dele. Não fui forçado fisicamente a ficar lá, mas fizemos um acordo que quando o procurador chegasse, eles deveriam liberar a estrada. Mas essa liberação não aconteceu ontem à noite, só na tarde de hoje”, explicou Martins, em entrevista à Agência Brasil.Após o enterro de Kurutê Lopes perto da aldeia, os índios mantém reivindicações à Funai, como a vinda de um grupo de trabalho de Brasília para analisar a situação dos indígenas e identificar as terras. Martins afirmou que o pedido, para que o grupo de trabalho vá visitar a região, já está em preparação e deve ser enviado à sede da Funai, em Brasília, até sexta-feira (19).De acordo com informações da Polícia Civil da região, os quatro indígenas presos no dia da morte da índia, ainda continuam detidos na cadeia pública da cidade. Eles foram acusados de roubar uma carreta. Entre os presos, está o líder dos Kaiowá, Francisco Fernandes. O administrador regional da Funai enfatizou que já existe uma pessoa cuidando da defesa dos índios, o procurador da Funai, Luís César Martins.O Conselho Indigenista Missionário (Cimi) divulgou uma nota hoje alertando para a situação dos índios do Mato Grosso do Sul, que classifica de “genocídio”. O texto denuncia a ação de fazendeiros que contratam jagunços para solucionar problemas de terras, “e esses ficariam na impunidade, enquanto índios estariam presos”. A nota critica ainda a Funai e diz que a fundação “tem se omitido sistematicamente a criar grupos de trabalhos para identificar as terras tradicionais dos índios”. A assessoria de imprensa da Funai de Brasília não quis comentar a nota do Cimi.Cerca de 35 mil a 40 mil Guarani-Kaiowá vivem em Mato Grosso do Sul. Eles habitam cerca de 30 áreas indígenas, que têm ao todo cerca de 50 mil hectares. A maior parte dessa população vive em áreas superlotadas, demarcadas pelo antigo Serviço de Proteção ao Índio (SPI) nos anos 20. Ao lado das cidades de Dourados e Amambai ficam as áreas indígenas mais populosas e problemáticas. A área da fazenda Madama não é reconhecida como área indígena, segundo informou assessoria da Funai.