Defensores e críticos do amianto se amparam em estudos científicos

07/01/2007 - 15h30

Marcos Chagas
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Em sua longa discórdia, mineradora e empresas que produzem,exploram e comercializam o amianto crisotila, de um lado, e setores ligados àsaúde pública no Brasil, do outro, têm procurado respaldo em documentoscientíficos que justifiquem seus pontos de vista. Contrapõem-se argumentos quegarantem que o modelo brasileiro é exemplo para o mundo no controle deeventuais danos à saúde de seus trabalhadores e argumentos pelo banimentodefinitivo do uso do mineral em território brasileiro. Relatório do Ministério da Saúde elaborado em 2004 pelo consultorElio Lopes dos Santos sugere que a não-proibição em caráter definitivo daextração, produção e comércio do amianto crisotila pelo governo brasileirodecorre de “interesses econômicos de lobbies de países produtores eexportadores”. O consultor acrescentou que esses países têm que “ser atendidos atodo custo”, uma vez que o Brasil é um dos maiores produtores de amiantocrisotila do mundo e eles não tinham mais reservas do mineral. “Jácomercialmente falidos, com suas reservas esgotadas, foram proibidos [daexploração de outros tipos de asbestos] e o único autorizado [crisotila],justamente aquele em produção no Brasil, foi autorizado, desde que de forma‘segura’, por apresentar ‘nocividade mais baixa’”, ressaltou Elio Lopes dos Santos.No relatório, ele contestou os argumentos de alta segurança ebaixa nocividade do amianto crisotílico brasileiro. De acordo com o texto, issonão se sustenta cientificamente diante da “comprovação nacional e internacionalda nocividade causada pelo asbesto do tipo crisotila, através de inúmeraspublicações especializadas e trabalhos apresentados em contressos e encontros”.Neste sentido, Santos acrescentou que por conta destas questões epelo reconhecimento do próprio Ministério da Saúde de doenças como o câncer,asbestose e mesotelioma causadas pelo amianto, se faz urgente a revisão dalegislação em vigor.Essa não é a opinião da presidente do Instituto Brasileiro deCrisotila, Marina Júlia de Aquino. Segundo ela, estudos recentes concluídospelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) de São Paulo mostram queprodutos manufaturados que usam amianto não comprometem a saúde do brasileiro. A pesquisa, segundo ela, envolveu o estudo de telhas comtempo de uso de até 60 anos. “Eles mostraram que o produto acabado não liberafibra e, nos casos mais longos, libera fibras, que não são respiráveis, numnível muito baixo”. Aquino afirmou, ainda, que o Brasil é referência no usocontrolado e responsável do amianto crisotila: “Os controles que se fazem tantoda qualidade do ar, equipamentos de proteção coletiva, como monitoramento dasaúde do trabalhador, garante a saúde e segurança destas pessoas”.A presidente do Instituto Brasileiro de Crisotilaargumentou, ainda, que estudo médico realizado na Bahia pela UniversidadeEstadual de Campinas (Unicamp) avaliou mais de 4 mil trabalhadores de umaantiga mineradora. “Eles avaliaram radiografias e laudos médicos deex-trabalhadores, inclusive alguns já falecidos, e o estudo mostrou que oíndice da doença encontrado nesses trabalhadores, numa época em que não seconheciam os malefícios do amianto e em que os métodos de controle não eramadequados, estavam abaixo do que era a expectativa dos cientistas”, disse.Marina Júlia de Aquino afirmou que, desde 1980, nenhum trabalhadorque atuou no segmento do fibrocimento (material produzido com cimento eamianto) apresentou qualquer traço de contaminação. Por lei, as pessoas quetrabalham ou trabalharam nesse segmento têm que ter acompanhamento médico por30 anos.