Amianto atende a necessidades do país, defende industrial

07/01/2007 - 18h50

Marcos Chagas
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O presidente da Eternit, Hélio Martins, defende oaproveitamento do amianto. A empresa é líder no segmento de fibrocimento,composição de cimento e amianto usada em telhas, caixas d’água e outros itensde construção civil. Em entrevista à Agência Brasil, Martins contesta onúmero de processos atribuído à companhia e diz que material responde anecessidades do país. Afirma também que a jazida do mineral, em Minaçu (GO),suporta mais 50 anos de exploração.Para garantir que confia no produto, declara: “Eu estoufalando do meu sítio [a entrevista foi por telefone], e a caixa da águaque os meus filhos bebem é de amianto”.Agência Brasil: A auditora Fernanda Giannasi, doMinistério do Trabalho, informou que existem 4 mil casos diagnosticados detrabalhadores e ex-trabalhadores da Eternit e da Brasilit com ações na Justiçapor terem contraído a doença do amianto. O senhor confirma?Hélio Martins: Essas vítimas não existem. Adoutora Fernanda tem duas funções, atua no Ministério do Trabalho e lidera umaONG que milita na área [é a Associação Brasileira dos Expostos ao Amianto,Abrea]. Sempre foi solicitado que se apresentassem relações dessas pessoas, osnomes nunca apareceram e nunca apareceram ações dessas pessoas contra asempresas. Existe uma ação civil pública em São Paulo sem nomes, proposta pelaAbrea.ABr: Então aEternit não tem nenhuma ação de trabalhador ou ex-trabalhador por conta dosefeitos da exposição ao amianto?Martins: AEternit tem ações contra ela de pessoas que já trabalharam na empresa,principalmente no período de 1940, 50 e 60, quando importávamos amiantoanfibólio, não tinha o sistema de despoeiramento que a empresa tem hoje, que éum dos mais modernos do mundo. A empresa é modelo, tem o ISO-14000, temOSO-8001 de saúde e segurança no trabalho. Isso são investimentos feitos aolongo dos últimos 30 anos. Em 66 anos de atividade no país, mais de 40 milpessoas trabalharam conosco e temos entre 128 e 129 processos contra acompanhia. Então, se falava em mil, depois 2.500 e, agora, se fala em um númeronovo, 4 mil, que eu nunca tinha ouvido.ABr: Ela fala em4 mil das duas empresas.Martins: Essaspessoas não existem. Há um exagero em relação a esta questão, o Brasil é muitodiferente do que foi na Europa, durante o processo de recuperação com o PlanoMarshall [após a Segunda Guerra Mundial]. Trabalhamos, no Brasil, abaixo de0,10 fibras por centímetro cúbico, e a legislação brasileira fala em 2 fibraspor centímetro cúbico. Nós recebemos em um ano e meio 11 mil pessoas, médicos,cientistas, políticos, estudantes, que já visitaram as cinco fábricas daEternit e a mineradora [a Sama, mineradora que explora o amianto no municípiogoiano de Minaçu]. A fábrica de Goiânia é de 1971 e não tem nenhum caso dedisfunção respiratória registrado. Nós temos prontuários dos trabalhadores, porlegislação temos que acompanhar a saúde delas por 30 anos e nós fazemos isso.Ela nunca importou amianto anfibólio, sempre trabalhou com o crisotila. Vocêsabe que há um confronto de tecnologias com forte interesse econômicoenvolvido. Nós queremos que os cientistas digam se é possível trabalhar ou não.Nesse sentido, a USP [Universidade de São Paulo] vai fazer uma pesquisa.ABr: Como vai seressa pesquisa?Martins: A USPdeve coordenar uma pesquisa com duas universidades canadenses e universidadesfederais junto à população que utiliza os produtos (telhas e caixas d’água, porexemplo) para responder se existem doentes no Brasil por usá-los ou não. Devecomeçar em janeiro ou fevereiro, e acredito que até o final do ano vai dar essaresposta.ABr: O Ministérioda Saúde publicou uma portaria obrigando as empresas que utilizam o amianto arepassarem ao Sistema Único de Saúde listagem de funcionários expostos aomineral, e vocês a questionaram na Justiça. Por quê?Martins: Aconteceque na lei que regulamenta a atividade não se fala no canal de distribuição.Essas leis não consideram a revenda, trabalham com produto onde a fibra estápresa numa matriz de cimento. Todas as medições na mina, nas fábricas e até nosrevendedores mostram que as fibras em suspensão estão muito abaixo do que a leipermite. O amianto está no ar, em dois terços da crosta terrestre. Essas leisque tentam proibir o amianto são inconstitucionais. Quem entrou no SupremoTribunal Federal contra as leis estaduais que proíbem o amianto foram ospróprios trabalhadores.ABr: Quanto acadeia do amianto movimenta no Brasil?Martins: A Sama éa terceira maior mineradora do mundo. Ela produz 250 mil toneladas/ano para umvolume mundial da ordem de 2,3 milhões de toneladas. Ela exporta mais de 60% doque produz, fornece para o mercado brasileiro. Das 12 empresas daqui, 11trabalham com amianto crisotila. Para toda a cadeia produtiva, da mina aoproduto aplicado, estimamos que existam 170 mil empregos diretos e indiretos,com faturamento de R$ 2 bilhões/ano. São números de 2005, e os de 2006 nãoestão fechados mas, sem dúvida, apresentou crescimento. É uma cadeia produtivamuito importante para a solução do déficit habitacional. Hoje se encontra nobalcão uma telha de 1,22 metro quadrado por R$ 5 e R$ 6, é algo que, depois dalona preta, é o que a população carente pode comprar. Se essas telhas saem domercado as opções vão de 20% a 80% mais caras.ABr: Quais são osprincipais compradores do amianto crisotila no exterior?Martins – Aexportação é de fibras de amianto. Temos algumas exportações para Angola,Portugal. Para Portugal exportamos painéis, divisórias para mezaninos semamianto, porque aquele país não usa material com amianto. Mas todos os paísesmais expressivos em desenvolvimento, como China, Índia, Tailândia, Indonésia eMéxico, e muitos outros, o utilizam.ABr: O senhordesvincula a decisão dos países europeus de banir o amianto de questões ligadasà saúde?Martins: Acho que duas coisas levaram a União Européia a nãoutilizar mais o amianto: os problemas por ter utilizado o amianto antifólio e ofato de o produto não atender mais às necessidades. O uso que se fez no processode reconstrução da Europa foi algo inconcebível. No jateamento de paredes osregistros mostram que havia mais de mil fibras por centímetro cúbico, quandonós trabalhamos com 0,10. E se 40 países baniram, já eram países que nãoutilizavam mais. Suas reservas se exauriram e eles não tinham mais interesseeconômico no produto.