Comunidades quilombolas lançam página na internet

07/01/2007 - 11h21

Grazielle Machado
Da Agência Brasil
Brasília - Cláudio Maciel de Pontes, 38 anos, casado e pai de quatrofilhos, estudou até a 4ª séria primária e é líder comunitário. Ele é uma das200 pessoas que vivem na comunidade quilombola de Cangume, na região do Vale doRibeira, localizada entre os estados de São Paulo e do Paraná.São nove comunidades de descendentes de escravos que têmem comum o modo de vida simples e a luta para conseguir a posse das terras ondevivem. São essas pessoas que no fim do ano passado lançaram sua própria apágina na internet.No endereço www.quilombosdoribeira.org.breles divulgam a cultura, a história e a luta pela terra nas comunidades ondevivem.A idéia de criar uma página na internet surgiu a partir deum projeto do Instituto Socioambiental (ISA), que contou com apoio financeirodo Ministério do Desenvolvimento Agrário para capacitar as comunidades do Vale doRibeira. Foram feitas oficinas de gestão de negócios, de empreendimento e deinclusão social.Em Cangume existem apenas dois telefones públicos, e umcelular, o do Cláudio. O posto de saúde mais próximo fica a 12 quilômetros dedistância; o hospital a 35 quilômetros; e a escola da comunidade só ensina atéa 4ª série.Para continuar estudando os alunos precisam pegar umônibus – cedido pelo governo do estado de São Paulo – pois, o centro de ensinomais próximo também fica a 12 quilômetros e as aulas são noturnas. Asplantações são apenas para a sobrevivência. “Trabalhamos todos juntos na roça,o alimento reparte, o que sobra vende”, resumiu o líder da comunidade.Na região do Vale do Ribeira existem 20 comunidades quilombolas, mas apenasnove optaram por participar da página. Antes de o ISA começar o projeto naregião, em dezembro de 2005, eles não conheciam computador, não sabiam o queera internet. O coordenador do projeto, José Strabelli, disse que a idéia émaior do que o site, trata-se de inclusão social. Para ele o espaço virtual foiuma conseqüência.“As pessoas não sabem que os quilombolas existem, as pessoas não conhecem osquilombolas. Esse Brasil plural precisa ser divulgado. O ISA apresentou aproposta do site para todos os líderes comunitários e eles aprovaram”, disse Strabelli. Mesmo sem conhecer a internet, as comunidades escolheram os assuntosa serem divulgados, ajudaram a escrever os textos e escolherem o visual dapágina.O trabalho do ISA com as comunidades do Vale do Ribeira acaba em maio desteano. Até lá Strabert espera que os quilombolas já sejam capazes de atualizar emanter o site sem ajuda. O problema é que das nove comunidades envolvidasapenas duas já tem computador.Os quilombos surgiram há mais de 300 anos, como focosde luta dos escravos pela liberdade. Hoje, a luta dessas comunidades é pelaterra.Dos 20 grupos do Vale apenas uma já tem a posse da terra, quatro brigamna Justiça com particulares e 25 são reconhecidas como quilombo, mas não têmterra.