Mercosul será desafio para próximo governo, apontam especialistas

25/12/2006 - 16h49

Mylena Fiori
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Especialistas em política externa divergem quanto ao futurodo Mercosul e quanto à ênfase que o governo brasileiro deve dar ao projeto deintegração regional. A aproximação econômica,social, política e cultural entre os países sul-americano foi prioridade do primeiromandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e deve continuar na pauta dodia nos próximos quatro anos. Questionado, durante o processo eleitoral, sobre os desafiospara os próximos quatro anos, o embaixador Rubens Ricupero, ex-ministro daFazenda e do Meio-Ambiente e secretário-geral da Unctad - Conferência das Nações Unidas para o Comércioe Desenvolvimento até 2005, destacou que o Brasil deve dar maior ênfase àsolução de controvérsias e desequilíbrios no Mercosul.“Vejo uma transformação muito grande do Mercosul que, a meu ver, estácada vez menos próximo de um acordo comercial e cada vez mais próximo de umaespécie de movimento político”, disse Ricupero em entrevista exclusiva àAgência Brasil. “Acho que aprioridade tem que ser a solução dos problemas comerciais que existem dentro dobloco, tanto os problemas que têm afetado o intercâmbio entre Brasil eArgentina quanto as queixas recentes do Uruguai e do Paraguai, o desejomanifesto destes países de ter um tipo de liberdade de ação para acordos com osEstados Unidos”, opinou.Na avaliação do professor Eduardo Viola, do departamento derelações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB), o Mercosul está em“crise profunda” e o descontentamento do Uruguai e do Paraguai é um dos fatoresdesta crise – pelas regras do bloco, os dois países teriam que sair do Mercosulpara estabelecer acordos comerciais com os Estados Unidos. Outro motivo decrise, segundo ele, são os caminhos diferentes adotados por Brasil e Argentinanas relações com outros parceiros comerciais.“O Brasil seguiu um curso econômico de integração crescente na economia global,e a Argentina seguiu uma tendência neo-protecionista. É uma contradiçãoimportante que leva a Argentina, permanentemente, a procurar exceções às regrasdo Mercosul”, explicou.O professor também mencionou o conflito entre Argentina eUruguai devido à construção de duas fábricas de papel na margem uruguaia do Rioque divide os dois países. “É um conflito que está muito politizado eideologizado pelo governo argentino. E a posição do Brasil tem sido manter-sedistante, apesar da expectativa Uruguai de uma atitude mais ativa do Brasil namediação da disputa”, ressaltou.Também ouvido pela Agência Brasil na cobertura das eleições2006, o professor Mário Ferreira Presser, coordenador do curso de DiplomaciaEconômica da Unicamp, destacou o papel que a Venezuela poderá exercer naconsolidação de um projeto de integração “O projeto de integração agora dependemuito do que os presidentes do Mercosul vão conseguir que Hugo Chavez faça. Eletem recursos econômicos importantes nesse momento”, ressaltou.“Tem que ver se irá aplicá-los num plano da infra-estrutura de médio e longoprazo na América Latina ou se irá fazer um super exército. Se ele se dispuser aaplicar os seus excedentes num projeto de integração regional, o horizontetorna-se excepcional”.o economista Theotonio dos Santos, professor da UniversidadeFederal Fluminense (UFF) e diretor da Universidade das Nações Unidas para aEconomia Global e o Desenvolvimento Sustentável, já havia falado à AgênciaBrasil a respeito desse projeto de integração.“A relação com nossos vizinhos émuito boa nesse momento, há muita convergência política e de interesses pelaintegração. Os pontos de divergência são plenamente superáveis, desde que hajauma política geral de desenvolvimento e crescimento da região”, avaliou.