Alex Rodrigues
Repórter da Agência Brasil
Brasília - A América Latina ainda tem muito que avançar para superar as desigualdades sociais. Mesmo países que têm obtido sucesso nos últimos anos, caso do Brasil, terão de conciliar crescimento econômico com mecanismos de redistribuição de renda, dando ênfase aos investimentos em educação, saúde e geração de emprego. A conclusão é do grupo de especialistas que participam do seminário internacional O Desafio da Redução da Desigualdade e da Pobreza, realizado pelo IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), em Brasília.“Somos uma região de alta desigualdade. Praticamente todos os países da América Latina têm alto nível de desigualdades. E, para reduzi-los, teremos de implantar políticas de curto e de longo prazo”, disse o pesquisador da Faculdade de Economia e Universidade do Chile, Dante Contreras.Ao se referir à políticas de curto prazo, Contreras citou a necessidade de programas de transferência de renda que beneficiem famílias pobres. O pesquisador, porém, ressalta a importância destas medidas terem efeitos longevos. “É importante que estes programas estejam atados à contrapartida das famílias, ou seja, que elas tenham a obrigação de enviar seus filhos à escola, ao sistema de saúde. Isso permite que as novas gerações tenham mais potencial e melhores oportunidades para se desenvolver”.Ao citar programas de transferência de renda implantados pelos governos mexicanos e chilenos, Contreras elogiou o Bolsa Família brasileiro. “Já vimos evidências sobre o efeito positivo que o Bolsa Família teve, no Brasil. O que se aprende com as experiências de outros países é que estes programas de transferência de renda condicionada à certas obrigações são positivos em termos de reduzir a pobreza e a desigualdade”.O pesquisador lamentou o fato de os números e os resultados do programa do governo de seu país, Chile Solidário, ainda não ser conhecidos, o que espera que aconteça até o início de 2007. Segundo ele, o Chile tinha, em 2003, 18,8% de sua população em condições de pobreza. “Mas podemos ser classificados entre os casos de sucesso, já que, em 1987, tínhamos 45% da população na pobreza. Esta redução se deve, 80% aos efeitos do crescimento econômico dos últimos anos, e 20% aos programas redistributivos”. Já o mexicano Fernando Cortés colocou em dúvida a eficácia de medidas de curto prazo. Segundo ele, somente mudanças estruturais vão contribuir para reduzir a pobreza. Cortés defendeu que se crie postos de trabalho bem remunerados e que os governos garantam acesso de todos a um ensino de qualidade. “É possível reduzir as diferenças compartilhando a renda dos mais ricos com os mais pobres. Obviamente, isso irá diminuir a desigualdade. Mas quando isso deixar de ser feito, o índice irá aumentar novamente”.