Obras de hidrelétricas podem agravar casos de malária em Porto Velho, alerta pesquisador

30/11/2006 - 19h09

Thais Brianezi
Repórter da Agência Brasil
Manaus - Se for confirmada a expectativa de migração de 100 milpessoas para Porto Velho (RO) atraídas pelas obras de construção das usinashidrelétricas do Jirau e Santo Antônio, o número de casos de malária poderácrescer na capital. O alerta é do pesquisador Mauro Tada, do Centro de Pesquisaem Medicina Tropical de Rondônia (Cepem). No ano passado, a capitalrondoniense, junto com Manaus (AM) e Cruzeiro do Sul (AC), concentrou cerca de25% dos casos da doença no país. “Estamos trabalhando no levantamento dos reservatórios demosquitos e na tentativa de controlar a malária no local onde funcionará ocanteiro de obras antes que a construção comece”, adiantou hoje (30) à AgênciaBrasil o pesquisador Mauro Tada, durante o encerramento, em Manaus, do “6ºCurso de Controle Biológico”, promovido pela Instituto Nacional de Pesquisas daAmazônia (Inpa), em parceria com a Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e aFundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). “A primeira coisa que faz com que a malária tenha um aumentosubstancial são as migrações. Os novos assentamentos rurais ou urbanos daAmazônia normalmente estão localizados na beira dos igarapés (rios pequenos),que são criadouros de mosquitos”, explicou Tada. “Quando uma pessoa contaminadavai para o local, ela logo passa o parasita (plasmodium, causador da doença)para o mosquito, gerando uma cadeia de transmissão que torna todo mundosuscetível”. O pesquisador disse que o inseticida usado na borrifação dascasas mantém afastado o mosquito da malária durante dois meses. “Os fabricantespreconizavam que seriam seis meses de proteção, mas na prática são apenas dois.Não dá para borrifar a mesma área seis vezes por ano. Além disso, se pelo menos80% das residências não foram borrifadas, não adianta. No máximo, serve paramatar baratas”, disse Tada. De acordo com Tada, cerca de 80% dos casos de malária nopaís são do tipo vivax, a menos agressiva. Ao contrário da malária falsípara, amalária vivax não mata, mas debilita o organismo. “Se receber tratamento, odoente fica sem trabalhar, com febre, dor de cabeça e crises de tremedeiradurante sete dias. Sem medicamento, ele sofre por 28 dias, e depois de um mêsos sintomas reaparecem, em um ciclo interminável. As perdas econômicas esociais da malária são imensas”, afirmou. Após uma queda entre 1999 e 2002, os casos de malária naAmazônia Legal, região que concentra 99% da ocorrência da doença no Brasil, têmaumentado nos últimos três anos. De 2004 para 2005, esse crescimento foi de29,4%, passando de cerca de 464,3 mil doentes diagnosticados paraaproximadamente 600,9 mil novos casos.Também hoje, em Porto Velho, no distrito de Mutum Paraná, oInstituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis(Ibama) realizou a última consulta pública para discussão dos impactos sócio-ambientaisdo complexo hidrelétrico do rio Madeira. Uma das áreas que será inundada pelabarragem da usina Santo Antônio é justamente o local no qual funcionará ocanteiro de obras, onde hoje o Cepem realiza pesquisas de controle da maláriaem cinco comunidades. Essas áreas estão localizadas ao longo da ferroviaMadeira-Mamoré – empreendimento no qual grande parte dos trabalhadores morreude malária.