Vladimir Platonow
Enviado especial
Abuja (Nigéria) - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou hoje (30) da abertura da reunião de chefes de Estado da Cúpula África-América do Sul e afirmou que o continente africano será prioridade em seu próximo governo. "Hoje a África é para o Brasil uma prioridade indiscutível. Desde o início do governo, visitei 17 países africanos e recebi 15 líderes da região, além de ter reaberto 12 embaixadas brasileiras", disse Lula em seu discurso.Ele lembrou que o comércio entre os dois continentes cresceu 110% nos últimos quatro anos e afirmou que, em seu segundo mandato, vai aprofundar ainda mais a parceria com os países africanos. Durante o encontro, que conta com a presença de representantes de 58 países africanos e sul-americanos, Lula pediu apoio para garantir a ampliação do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU)."Precisamos adaptar as instituições aos nossos tempos. A reforma da ONU é vital para fazer frente aos novos desafios. O Conselho de Segurança reflete uma ordem internacional que não existe mais. Sua ampliação, com novos assentos permanentes e não-permanentes, para países em desenvolvimento, é a chave para torná-lo mais legítimo e democrático".No campo econômico, Lula disse que o investimento na produção de biocombustíveis, como biodiesel, h-bio e álcool, pode ser a chave para o desenvolvimento africano. "Esses combustíveis têm um enorme potencial para realizar uma verdadeira revolução agrícola e energética em nossos continentes, pois diversificam a matriz energética, criam abundantes empregos, mantêm a população no campo e favorecem o comércio exterior".O presidente enfatizou a importância do encontro, que reúne pela primeira vez lideranças de ambos os continentes. "Esta cúpula abre um novo capítulo na história das relações sul-sul. Duas regiões em desenvolvimento se reúnem por vontade política própria, sem intermediários. Se queremos outra globalização, menos desigual, mais solidária, precisamos construir parcerias estratégicas que atendam os países mais pobres´´.Ao concluir seu discurso, Lula falou de improviso e conclamou os líderes africanos e sul-americanos a buscar união. "Não existe saída para nossos problemas políticos, econômicos e sociais se continuarmos a agir sozinhos. A saída é coletiva, vinculada a programas estratégicos. Caso contrário, nós vamos terminar o século 21 da mesma forma como terminamos o século 20".Falando em seguida, o presidente da Líbia, Muamar Khadafi, ressaltou a importância do encontro e também enfatizou a necessidade de se reformar o Conselho de Segurança da ONU. "É hora de acelerarmos o passo e vencer desafios, deixando de ser apenas fornecedores de matérias primas e nos tornarmos industrializados", disse o líder líbio, que fez questão de demonstrar apoio ao presidente Hugo Chavez, da Venezuela, que não foi à cúpula por causa da proximidade das eleições em seu país, no próximo domingo.Antes da cúpula, Lula e Khadafi tomaram café da manhã juntos, quando puderam discutir as relações bilaterais. O presidente interino do PT, Marco Aurélio Garcia, que até as eleições ocupava o cargo de Secretário Especial para Assuntos Internacionais, acompanhou a reunião e disse que os assuntos giraram sobre as visões que ambos têm, de promover a integração regional em seus continentes, bem como o aumento do comércio entre os dois países. "A parceria com a Líbia deve aumentar, com maior participação de construtoras brasileiras em obras líbias e novas operações da Petrobras", contou Garcia.