Priscilla Mazenotti
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva entregou hoje (28),no Palácio do Planalto, títulos de propriedade de terras para nove comunidadesquilombolas do Maranhão e do Piauí. Ao todo foram beneficiadas 576 famílias,que se tornaram proprietárias de uma área de 4,6 mil hectares. “O reconhecimento do título é o primeiro passo. Atrás dotítulo, tem de ir a formação profissional das pessoas, a manifestação cultural,a saúde, a educação, a energia elétrica, a habitação, a infra-estrutura e,sobretudo, tem de ir as condições de vocês poderem construir a cidadania devocês”, disse o presidente.A entrega da titulação fez parte dos eventos do Dia Nacionalda Consciência Negra, comemorado no último dia 20. “Durante 300 anos, os jovense as pessoas mais saudáveis foram tiradas para trabalhar como escravos.Trezentos anos é mais do que um genocídio de muitas e muitas guerras queaconteceram na humanidade. É preciso, não apenas um gesto, mas muitos gestos emuitas políticas públicas para que a gente não leve 300 anos para reparar o malque foi feito aos negros nesse mundo”, afirmou Lula.Uma das beneficiadas com a posse da terra foi a professorado ensino fundamental Laurinete de Oliveira Cunha, de 27 anos. Ela mora nacomunidade remanescente de quilombola de Bom Jesus, município de Cândido Mendes(MA). “Isso significa uma garantia do que é seu. Até então a gente morava lá,mas não tinha como provar que era nosso. A gente antes tinha medo de sairporque alguém podia chegar e dizer que era dono. Para nós, (a titulação) é umasegurança de estar vivo e de permanecer onde estamos”, afirmou.Laurinete disse que a luta de toda a família finalmente foireconhecida e que a partir de agora vai comemorar a posse de uma terra que podechamar de sua. “É uma emoção muito grande. A gente já lutou muitos anos, o meuavô tem mais de 80 anos, a minha bisavó, mais de 90, e a gente vinha lutandopara isso. É a realização de um sonho. É uma festa verdadeira que a gente vaifazer. Na minha comunidade a gente ainda dança o tambor de crioula, a marujadae vamos comemorar com essa cultura que é nossa”, disse, sorrindo.Segundo o ministro do Desenvolvimento Agrário, GuilhermeCassel, este ano 21 comunidades quilombolas já receberam a titularidade de suasterras, ao contrário de 2004, quando apenas duas terras foram tituladas, e em2005, quatro. “Aprendemos a fazer, temos estrutura e legislação para fazer eagora estamos fazendo (a titularização das terras)”, disse o ministro.Guilherme Cassel informou que a posse da terra aosquilombolas este ano somam 25,86 mil hectares, com 1.528 famílias beneficiadas,quando em 2004 esse número foi de apenas 3,6 mil hectares, com 54 famíliasbeneficiadas. “E estamos multiplicando isso. Já temos 105 relatórios técnicosde identificação já publicados no Diário Oficial, ou seja, em fase final dereconhecimento, e temos 453 processos em andamento. Toda a questão quilombolatem sido enfrentada e resolvida com efetividade”, disse o ministro.Durante a cerimônia ainda foi assinado Termo de CooperaçãoTécnica entre o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), aSecretaria de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), a Companhia deDesenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), daSecretaria de Patrimônio da União (SPU) e a Universidade Federal do Vale do SãoFrancisco (Univasf), para promover o desenvolvimento sustentável dascomunidades quilombolas na bacia do São Francisco.