"Cabeças do Congresso" tiveram mais sucesso na reeleição do que na disputa por novos cargos

17/10/2006 - 18h50

Julio Cruz Neto
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Entre os deputados considerados os mais influentes do Congresso Nacional, a maior parte dos que disputaram a reeleição conseguiu apoio do eleitorado para continuar no parlamento. Já os deputados que tentaram um cargo considerado mais influente - como senador ou governador - não tiveram tanto sucesso nas urnas. Quase a metade não conseguiu se eleger. É o que mostra um levantamento do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), que elenca todos os anos os 100 deputados federais "cabeças" do Congresso. Dessa lista, 69 tentaram se reeleger ou passar para um cargo considerado "superior" nas eleições de 1º de outubro.Entre os que tentaram seguir na carreira de deputado, 77% conseguiram. Dos 13 que almejaram virar senador, governador ou outro posto mais influente, quase metade não conseguiu. Seis perderam e os sete restantes ou venceram ou passaram para o segundo turno.A Radiobrás avaliou o resultado eleitoral dos 69 deputados e entrevistou dois deles, um que se reelegeu e outro que não conseguiu virar senador.Depois de quatro legislaturas seguidas (16 anos) como deputado, Pauderney Avelino (PFL-AM) vai deixar o Congresso no início de 2007. Tentou virar senador e foi o segundo mais votado, com 289,2 mil votos – só havia uma vaga. Supondo que tivesse tentado o quinto mandato como deputado e recebesse a mesma votação, estaria eleito, já que o mais votado (Carlos Souza, do PP) teve 147,2 mil. Mas na briga pelo Senado, Avelino não teve nem metade da votação de Alfredo Nascimento, do PL: 629,6 mil.O deputado garante que não se arrepende. “Comecei em quarto lugar e terminei em segundo, com quase 200 mil votos em Manaus. Saí maior do que entrei, agora estou coordenando a campanha do Alckmin [candidato a presidente pela coligação PSDB-PFL] no Amazonas.”Ele acha que o cargo de deputado é o mais difícil que existe por exigir muito e render poucos louros. “Eu poderia ser deputado federal pelo resto da vida, mas decidi que não valia a pena sem ser reconhecido”, analisa Avelino. O deputado considera também que foi prejudicado por não ter sido "bajulador" de outros políticos. “Tem ‘n’ formas de ser deputado. Você pode ser despachante de prefeito, o que eu nunca fui, e ser deputado por inteiro. O resultado está aí.”Avelino acha que um deputado “não tem como comunicar seu trabalho”. Luiza Erundina (PSB-SP) também reclama disso. “O trabalho mais importante é o das comissões, é na relatoria, nas audiências, mas lamentavelmente a mídia não dá atenção”.Embora seja uma das “cabeças do Congresso”, Erundina optou por continuar na Câmara e conseguiu o terceiro mandato, com a décima melhor votação: 195,8 mil votos. Ela foi a única mulher reeleita da bancada paulista.A ex-prefeita de São Paulo acha que o fator mais determinante para a avaliação do eleitorado é a atuação do parlamentar, especialmente em mandatos como o dela, de “caráter popular”. “Trabalho muito junto aos movimentos sociais, especialmente em relação a mulheres, saúde e moradia”.Erundina também credita a reeleição ao fato de ser bem aceita. “Não tenho rejeição em canto nenhum, em classe social nenhuma”. Por quê? “Por causa de minha coerência. Votei várias vezes contra o governo, apesar de sermos da base aliada e mesmo não ganhando cargos importantes na bancada por conta disso.”Tomando como base não só os “cabeças do Congresso”, mas todos os 513 deputados, 34 tentaram um cargo considerado superior. Dez ganharam e cinco dependem do segundo turno nas eleições para governador. O aproveitamento provavelmente será maior que em 1998, quando 19% (quase um em cada cinco) conseguiram mudar de atividade política.Dos 513 deputados da atual legislatura, 433 tentaram se reeleger em 1º de outubro e 267 conseguiram, ou seja, 61,6%. Os dados são do Diap, que revela queda de pouco mais de 6% na quantidade de deputados que conseguiram se reeleger, em relação à eleição de 2002. Mas como o número de candidatos à reeleição foi maior, o índice de renovação mudou pouco, crescendo de 45% para 48%. Praticamente metade da Câmara ficou igual.