Campanha orienta população e médicos sobre doação de órgãos

27/09/2006 - 14h57

Irene Lôbo
Repórter da Agência Brasil
Brasília - A Associação Brasileira de Transplantede Órgãos (ABTO) promove nesta semana a 8ª Campanha de Doação de Órgãose Tecidos. "Vida é para doar e para receber" é o tema da campanha, quemarca o Dia Nacional do Doador de Órgãos, comemorado hoje (27).

Deacordo com a entidade, o objetivo é esclarecer a população sobrecomo funciona o processo de doação de órgãos. Dados da ABTO indicam quecerca de 60 mil pessoas aguardam por um transplante no país. A campanhavisa também orientar os médicos que fazem as notificações de potenciaisdoadores; o governo, que gerencia o sistema; e os legisladores, que têmde criar leis específicas para regulamentar os transplantes.

“Vamostentar que o efeito temporário dessa semana possa, a cada ano,significar um degrau, um patamar um pouquinho mais alto no progressodos transplantes, que ainda têm muito o que progredir em relação aonúmero de procedimentos para atender a demanda que é muito alta nopaís”, afirmou o secretário da ABTO e chefe do Serviço de Transplantede Fígado da Santa Casa de São Paulo, Paulo Massarolo.

Segundoo médico, só para transplante de fígado, estão na fila sete milpessoas. Atualmente, são feitos apenas mil transplantes de fígado porano no Brasil.  Para Massarolo, o que dificulta a realização demais transplantes não é a falta de doadores, mas o esquecimento na horade notificar um possível doador, a recusa de algumas famílias elimitações no sistema de saúde.

“Quandoas famílias concordam, os doadores precisam receber uma série deatenções, cuidados médicos adequados para confirmar a morte encefálica,retirar os órgãos adequadamente e poder transplantá-los com segurança.E a condição para isso, muitas vezes, esbarra nas limitações do nossosistema de saúde, que tem deficiências”, disse o médico.

Oprofessor de Bioética da Universidade de Brasília (UnB) Volnei Garrafalembra que a população deve exigir que o sistema público de captação deórgãos esteja bem aparelhado. Quanto à questão ética envolvida nostransplantes, o professor disse que é contra a doação entre pessoasvivas que não sejam parentes até o segundo grau.

“Euacho que num país com tantas fragilidades como o Brasil - fragilidadeno sentido econômico, pobreza, social, educacional - isso aí teria queser modificado na lei. Eu acho que a lei brasileira deveria modificar eimpedir, proibir a doação entre vivos não aparentados”, defendeu oprofessor.

A doação entredesconhecidos, segundo Garrafa, poderá abrir brechas para o comércio deórgãos, que é ilegal no Brasil. “A espécie humana, o ser humano, é umfim em si mesmo. Ele não pode ser um meio para resolver outrosproblemas, ele é um fim em si mesmo. Então, eu sou completamentecontrário a qualquer forma de mercantilização do corpo humano, sejasangue, sejam óvulos para reprodução assistida. E órgãos paratransplante também”. Para o professor, é preciso acabar com afalácia de que não existem órgãos em número suficiente para reduzir asfilas de transplantes no Brasil. O que falta é um sistema ágil eeficiente de captação e aproveitamento de órgãos, ressaltou. “Entãoisso aí é uma coisa que o Brasil deve desenvolver mais, para chegar nofuturo com um sistema que seja realmente o desejável para umasociedade”.