Brasil não tem sistema unificado de saúde, diz diretor da Fiocruz

30/08/2006 - 12h06

Carolina Gonçalves
Repórter da Rádio Nacional
Rio de Janeiro - Em entrevista ao programa Notíciasda Manhã, da Rádio Nacional, o diretor do laboratório Farmanguinhosda Fundação Oswaldo Cruz (FioCruz), Eduardo Costa, afirmou que a populaçãobrasileira nunca contou com um serviço unificado de saúde, como propõe oSistema Único de Saúde (SUS).“O Brasil nunca optou porsistema único na prática. Pulverizou, dividiu e municipalizou. Municipalizarquer dizer reproduzir a desigualdade no sistema de saúde que existe entre osmunicípios brasileiros”, afirmou. Segundo ele, os argumentos dedescentralização como democratização são enganosos.”A gente tem que ter umaestrutura de saúde para dar a cada cidadão brasileiro, onde quer que ele viva,condições semelhantes de apoio à sua vivência, ao desenvolvimento dele e de suafamília, igual, com o mesmo aporte”.Costa lembrou que o sistemabritânico conquistou essa unicidade quando negociou com laboratórios eindústrias e garantiu, por exemplo, que jovens gestantes e pessoas idosastivessem acesso gratuito aos remédios essenciais.Segundo o diretor, essa é uma dascausas da dificuldade que o brasileiro enfrenta para conseguir medicamentosessenciais a baixo custo. Ele atribuiu o problema à forma como o sistema desaúde do país foi construído. Costa afirmou que apopulação não conta com cobertura total dos medicamentos destinados às doençasmais comuns, porque o Brasil não priorizou a atenção primária quando organizoua área de saúde pública. “O programa Saúde da Família vem anos depois, olhadocomo uma coisa localizada, com mais cara de interior do que de cidade”,afirmou.A atenção básica inclui oatendimento médico que, se bem orientado, pode produzir resultados positivos nadistribuição dos medicamentos, com a prescrição de remédios direcionada,evitando que o consumo de remédios esteja mais relacionado a propagandas.Costa acrescentou que a falta de atençãobásica bem organizada compromete inclusive os resultados de laboratóriosoficiais como o Farmanguinhos, no Rio de Janeiro, que trabalham para reduzir ospreços de medicamentos essenciais.