Decadência permitiu que Marechal Deodoro preservasse patrimônio histórico, diz professora

19/08/2006 - 18h27

Juliana Andrade
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O processo de decadência econômica e política iniciado em 1839 permitiu que o município de Marechal Deodoro, em Alagoas, preservasse as características urbanísticas da época da colonização portuguesa.A análise é da professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) Rosimary Ferrare, autora do livro Marechal Deodoro, um Itinerário de Referências Culturais.Por causa do valor histórico, a cidade – a primeira capital alagoana - foi tombada na última quinta-feira (17) pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).A pedido do órgão, Ferrare elaborou um dossiê com referências culturais e um inventário sobre o patrimônio histórico de Marechal Deodoro, que serviu de base para o processo de tombamento.As primeiras ocupações que deram origem ao município ocorreram por volta de 1611. Um dos motivos da fixação dos portugueses era evitar o roubo de pau-brasil. O local, hoje conhecido como Praia do Francês, funcionava como ponto de parada de embarcações francesas que vinham contrabandear a madeira.A professora explica que o período de decadência começou em 1839. O que movimentava Marechal Deodoro era o ciclo da cana-de-açúcar, principalmente. Mas, com a economia local em queda, a cidade acabou não sendo descaracterizada. “Essa decadência foi que propiciou essa conformação do traçado urbano da cidade, do casario e de todas as edificações”, afirma Ferrare.Na avaliação dela, o tombamento poderá impulsionar o desenvolvimento da cidade junto com a preservação. “Acredito que, com o tombamento, a cidade vai ganhar projeção e deve tentar se firmar como ponto turístico, como local com referências arquitetônicas e urbanísticas”. Segundo ela, entre os bens de alto valor histórico e cultural estão as igrejas, “que refletem o período da colonização, quando a religião católica fazia parte de um processo de fixação dos colonos e de conversão de novos adeptos”.Para que a proteção da cidade pelo Iphan traga melhorias efetivas para a cidade, são necessários recursos para a restauração das construções que foram descaracterizadas ao longo dos anos, diz Ferrare. De acordo com ela, o processo de descaracterização começou entre as décadas 60 e 70. A professora diz ainda que as igrejas devem ser as primeiras construções a passar por reparos. De acordo com ela, muitas estão sem cobertura há várias décadas. “Ano a ano a depreciação vem aumentando”, lamenta, ao citar o exemplo da Igreja do Rosário, de 1827.