Governos brasileiros prejudicaram julgamento da ditadura paraguaia, critica ONG

17/08/2006 - 15h00

Daniel Merli, Juliane Sacerdote e Yara Aquino
Da Agência Brasil
Brasília - O asilo político concedido pelo governo brasileiro a Alfredo Stroessner impediu a punição do ex-ditador no Paraguai. Stroessner morreu na madrugada de ontem (16), em um hospital de Brasília, após viver na cidade desde 1989. “Foi um acordo político de sucessivos governos brasileiros, que fez com que os crimes da ditadura nunca pudessem ser julgados”, afirma Vidal Azevedo, da Comissão de Justiça e Paz do Paraguai (Serpaj, pela sigla em castelhano).Azevedo conta que há um processo na Justiça paraguaia em que Stroessner é processado por crimes cometidos durante sua ditadura, que durou de 1954 até 1989. Na ação, é pedida a extradição do ex-ditador ao Paraguai. “O governo brasileiro, naquele momento e no atual, não o extraditou para que se submetesse à Justiça paraguaia”, afirmou, em entrevista por telefone à Agência Brasil. “Não pode ser interrogado pela localização do corpo de desaparecidos, nem pagar pela morte de tantos paraguaios”. O governo brasileiro nega que tenha rejeitado a extradição. “O processo não foi arquivado, nem negado. O processo estava sendo analisado”, afirma Izaura Miranda, diretora do departamento de estrangeiros do Ministério da Justiça. Segundo ela, o processo de extradição não tem conotação polícia, é um procedimento jurídico analisado por técnicos do Ministério da Justiça e pelo Supremo Tribunal Federal.Cerca de 350 pessoas desaparecem no governo do ditador e mais de três mil morreram, segundo estimativa da Comissão de Verdade e Justiça, que investiga as mortes. Mas, segundo a Serpaj, não há dados oficiais já que os chamados “arquivos do terror” ainda estão sendo abertos.Uma das descobertas a partir das investigações dos “arquivos do terror” foram documentos comprovando a Operação Condor – coordenação de atividades entre as ditaduras latino-americanas, com apoio do governo dos Estados Unidos. Segundo Azevedo, há documentos comprovando troca de prisioneiros políticos entre os governos brasileiro, argentino, chileno, uruguaio, boliviano e peruano.O ativista da Serpaj afirma que outro problema no processo contra Stroessner é sua influência na política paraguaia. O ex-ditador era até sua morte o presidente de honra do Partido Colorado. A legenda se mantém no poder desde o golpe há 60 anos.