Marli Moreira
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - Os acordos de negociações salariais realizados de janeiro ajunho deste ano alcançaram os melhores resultados na correção de salários desde1996, data em que teve início a pesquisa sobre reajuste salarial doDepartamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Em 96% de um total 271negociações, houve ao menos a reposição da inflação no período de 12 mesesanteriores à data-base com a taxa do Índice Nacional de Preços ao Consumidor(INPC), calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A pesquisa do Dieese indica que em 222 negociações, 82% dototal acordado, foram obtidos aumentos reais de salário. A maioria dasnegociações resultou ganhos de até 1% acima da variação do INPC. Segundo a pesquisa, em 69 acordos o reajuste oscilou de1,01% até 2% maior que a taxa inflacionária; em 37, de 2,01% até 3%; em 12, de3,01% até 4%; em 6, de 2,01% até 5%, e em duas negociações os reajustes ficaramacima de 5%.Na comparação com o primeiro semestre do ano passado, houveuma elevação de 10 pontos percentuais na proporção de reajustes que permitiramaos trabalhadores ganhos suficientes para compensar a redução provocada pelainflação. Já as correções acima do INPC tiveram uma expansão em 15 pontospercentuais. De janeiro a junho de 2005, em 85,1% das negociações foipossível ao menos zerar a perda inflacionária e em 67,4% dos acordos houvereposição em índices acima do INPC.O setor do comércio foi o que ofereceu melhores ganhos,beneficiando 91% das categorias com aumento superior ao INPC. Na indústria,esse percentual foi de 84% e no setor de serviços 77%. De acordo com o levantamento, o setor de serviços apresentoua maior proporção de negociações com taxas iguais à inflação, atingindo 18% dasnegociações ante 11% na indústria e 7% no comércio. Foram poucos os casos de negociações com correções abaixo doINPC, afetando 5% nos serviços e na indústria e 2% no comércio.Na avaliação do supervisor do escritório do Dieese em SãoPaulo, José Silvestre Prado, “há uma tendência de mobilização sindical na buscade ganhos reais acima da inflação ou de, no mínimo, conquistar a reposiçãoinflacionária em todas os setores econômicos, independentemente da áreageográfica e convenção coletiva do trabalho”. Em sua exposição de motivos, o Dieese aponta que essesganhos são conseqüência do bom desempenho da economia brasileira. “Expansão domercado consumidor interno, estimulado pela maior oferta de crédito, peloefeito dos programas sociais dos governos estaduais e federal e pelo impactodos últimos aumentos reais do salário mínimo oficial”, foram alguns dos pontosdestacados. O órgão também avalia que os êxitos nos acordos são reflexosda política de redução progressiva da taxa básica de juros, a Selic, hoje em14,75% ao ano, e dos investimentos na área produtiva do setor privado. No entanto, em sua análise técnica, adverte que uma parteexpressiva dos trabalhadores ainda está de fora dos benefícios alcançados porestar desempregada ou na informalidade.