Procuradores dos Direitos do Cidadão discutem desigualdade racial em instituições públicas

15/08/2006 - 17h32

Yara Aquino
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O racismo nas instituições públicas no país ainda é umaprática presente. A prova, segundo a assessora do Programa das Nações Unidaspara o Desenvolvimento (PNUD), Luiza Bairros, foi a demanda dos movimentosnegros para se tratar a questão racial no âmbito público, o que resultou noPrograma de Combate ao Racismo Institucional, do PNUD.O programa tem o objetivo de trabalhar comportamentos epráticas discriminatórias e, assim, corrigir as diferenças raciais dentro dasinstituições. Já foi implantado pelas prefeituras de Recife e Salvador;iniciado em Fortaleza, e tem também a adesão do Ministério Público dePernambuco. “É uma iniciativa aparentemente pequena, mas que teve capacidade dedisseminação grande”, disse.O racismo nas relações institucionais se caracteriza,segundo Luiza Bairros, por práticas discriminatórias, pela ausência de negrosnas funções mais valorizadas, por estereótipos racistas, que acabam porprovocar desvantagem aos negros, entre outros. De acordo com ela, onde foicolocado em prática, o programa já apresentou resultados positivos como acriação de instâncias estaduais e municipais para tratar da questão do racismoe a inclusão da história da África em currículos escolares. A experiência do programa foi apresentada no XII EncontroNacional de Procuradores e Procuradoras dos Direitos do Cidadão. No encontro, o professor do Departamento de Antropologia daUniversidade de Brasília, José Jorge de Carvalho, apresentou também umapesquisa que revela o perfil racial do Ministério Público Federal (MPF). Os dados confirmam a diferença entre negros e brancos eminstituições públicas. No MPF, 75% dos trabalhadores são brancos e apenas 3%negros. Outros 20% são pardos e 2% amarelos. Quando analisados apenas osnúmeros relativos aos servidores terceirizados, a diferença se inverte, sendo45% pardos, 18% negros e 32% brancos. A discrepância fica ainda mais claraquando se compara esse dado com os dos membros do MPF. Nesse caso, 94% sãobrancos e a estatísticas de negros é de 0%.O professor José Jorge vê como caminho para amenizar adiferença, a implantação de cotas para acelerar a inclusão da população negra.A mesma solução é apontada pela assessora do PNUD, Luiza Bairros. “É precisocriar mecanismos que estimulem o acesso a esses grupos que estãosub-representados”, afirma Bairros.