Alessandra Bastos
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Foram três meses comendo arroz e feijão e bebendo água imprópria para consumo. Treze quilos mais magro e sem forças para trabalhar, José da Silva (nome fictício) foi embora sem receber nada pelo trabalho na fazenda Boiada (nome fictício). Ele pediu que não se divulgasse seu nome, nem o da fazenda, por medo de ser identificado e sofrer repressão. José disse que o patrão sempre usava uma arma na cintura e “bancou covardia”. Há três meses, ajudado pela Comissão Pastoral da Terra (CPT), José foi até a delegacia mais próxima da fazenda para denunciar o caso: trabalho análogo à escravidão. Entretanto, mais 20 trabalhadores permaneceram na fazenda com esperança de receber o que têm direito, mas, até agora, a fiscalização não passou por lá e a situação continua igual. Há duas semanas, José voltou à fazenda para tentar receber os atrasados e nada conseguiu. Ele conta que trabalhou na propriedade nos três últimos meses do ano passado e que recebeu 500 “e poucos” reais. Voltou para casa, onde passou o Natal e o Ano Novo, ao lado da mulher e dos três filhos. Depois das festas, foi novamente para a fazenda, onde ficou mais três meses, dessa vez, sem receber qualquer pagamento. “Adoeci de fraqueza, porque passei uma fome danada. Desmaiei duas vezes”, diz José. O arroz e o feijão eram fornecidos pelo patrão. A carne, “quem quisesse tinha que comprar. Mas, se a gente não recebia, como ia comprar?”, questiona. A água vinha de um córrego, misturada ao barro, e não existiam alojamentos. Os trabalhadores dormiam em redes em barracos de palha feitos pelo próprio José da Silva.De acordo com José, era de R$ 15 a diária prometida aos trabalhadores. Eles não eram obrigados a trabalhar aos domingos, mas quem se recusasse era motivo de chacota. “Ficavam conversando besteira, falavam que tava com preguiça”. As carteiras de trabalho nunca foram assinadas. Segundo José, o gerente da fazenda “era um homem bom” e dizia que o proprietário é que “não assinava [as carteiras] não”. Desempregado, José da Silva está preocupado. Precisa arrumar algo rapidamente porque o quarto filho já está a caminho.