Racismo no futebol não se restringe a torcidas ou a jogadores, afirma coordenadora de ONG

15/06/2006 - 18h20

Alessandra Bastos e Juliana Andrade
Repórteres da Agência Brasil

Brasília – A coordenadora da organização não-governamental Movimento Negro Unificado, Denise Barbosa, disse que o racismo no futebol não se restringe a manifestações de torcidas ou de alguns jogadores. Segundo ela, também é comum que profissionais de comunicação, como os locutores de jogos de futebol, tenham comportamento racista.

"Eu observo que essa questão do racismo e do incômodo se dá também nos profissionais de imprensa que narram, às vezes eles se sentem incomodados ou tratam de forma estereotipada, diferenciada, alguns atletas, algumas seleções", afirmou.

De acordo com ela, muitas vezes essas declarações não são vistas como racismo, mas na verdade são formas sutis de discriminação racial. "A gente que está sempre atento a determinadas coisas percebe, mas quem não está atento às vezes não percebe, porque é na sutileza que se faz determinados comentários, que, do meu ponto de vista, são equivocados, por que não dizer desnecessários."

Denise Barbosa citou o caso de um narrador que chamou a atenção para o número de seleções africanas que disputam a Copa do Mundo da Alemanha. "Ele (estava) achando um absurdo tantos países africanos, querendo dizer ‘por que países que não têm tanta expressão no futebol têm que estar participando de uma Copa do Mundo?’", contou.

Para a coordenadora, por trás desse questionamento está o "racismo arraigado no senso das pessoas". Ela diz que o racismo existente no Brasil é um dos piores do mundo, porque se trata de um país cuja composição é pluriétnica e multicultural.

No entendimento de Denise Barbosa, para combater o racismo no futebol é fundamental a reação por parte dos jogadores ou das seleções ofendidas. "Independentemente de ser jogador famoso ou não, a pessoa tem que ter sua identidade e não abrir mão dela, então a reação é neste sentido."