Para ouvidor, iniciativa da Fifa de combater racismo nos estádios é ''primeiro grande passo''

15/06/2006 - 14h26

Alessandra Bastos e Juliana Andrade
Repórteres da Agência Brasil

Brasília – O ouvidor da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), Luiz Fernando Martins da Silva, elogiou a iniciativa da Federação Internacional de Futebol (Fifa, a sigla em francês) de colocar uma faixa no campo com os dizeres Say No to Racism (Diga não ao Racismo) antes do início das partidas da Copa do Mundo da Alemanha. Para ele, a medida não vai eliminar a discriminação racial nos estádios, mas é um "primeiro grande passo" contra esse tipo de preconceito.

"Uma Copa do Mundo é vista praticamente pelo mundo inteiro, todas as pessoas estão olhando, então imagina que efeito multiplicador, de disseminação de idéias, essa faixa há de ter. Eu diria que, aliada a outras iniciativas que estão em curso, é um excelente caminho para, pelo menos, a mitigação desse problema", avaliou.

De acordo com Silva, a Seppir criou em fevereiro uma comissão especial para apurar casos de racismo no futebol, que deverá propor à própria secretaria e ao Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial ações para superar o problema. Para isso, um dos primeiros passos foi encaminhar ofícios à Confederação Brasileira de Futebol (CBF), à Justiça Desportiva e à Fifa pedindo informações sobre os procedimentos adotados nesses casos.

Segundo o ouvidor, a CBF já enviou resposta à comissão. Silva informou que cumprindo determinações da Fifa, a Confederação Brasileira de Futebol alterou o seu estatuto. Um dos principais pontos, disse ele, é a previsão de punições para atos de discriminação de raça, cor, idioma e religião.

Outra mudança considerada positiva pelo representante da Seppir ocorreu no Código Brasileiro de Justiça Desportiva. "O artigo 187 está prevendo punição para ofensa moral que consistir em ato discriminatório, abrangendo situação de raça, cor, etnia, e a punição alcançará tanto o ofensor, que realizar em campo de futebol a discriminação, quanto a entidade de prática desportiva, ou seja, o clube".

No entendimento de Silva, não é que os casos de racismo no futebol estejam aumentando nos últimos anos, mas ganharam maior visibilidade, à medida que passaram a ser mais coibidas. Para ele, apesar dos avanços, a discriminação racial ainda é uma realidade não apenas no futebol, num "racismo à brasileira".

O ouvidor explicou que se vende uma idéia de que este é um país totalmente harmônico nesse campo, que não haveria conflitos e isso faz com que muitas pessoas estejam sendo discriminadas e não saibam. "No caso, como há uma idéia social muito mais ampliada sobre isso e como as práticas de racismo mais exteriores, mais diretas, estão sendo muito reprimidas, esse racismo tende a cada vez mais se sofisticar, a ficar mais indireto, mais sutil", observou.