Manifestações não devem se restringir à Copa do Mundo, diz representante do Ibase

15/06/2006 - 13h06

Juliana Andrade
Repórter da Agência Brasil

Brasília - O pesquisador do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase) Luciano Cerqueira, um dos coordenadores do grupo Diálogos contra o Racismo (formado por organizações não-governamentais), quer que as manifestações contra a discriminação racial nos estádios não se restrinjam à Copa do Mundo, mas sejam estendidas a outros campeonatos de destaque, como o espanhol, o italiano e o brasileiro.

Ele lembrou que nos últimos dois anos, pelo menos cinco jogadores brasileiros negros que atuam em times da Europa - Roberto Carlos, Ronaldo, Ronaldinho Gaúcho, Juan e Aílton - foram alvo de manifestações de racismo por parte da torcida adversária, principalmente da Espanha e da Itália.

De acordo com o pesquisador, em geral, enquanto a discriminação racial no futebol, em jogos no exterior, costuma ser de torcedores para jogadores, aqui no Brasil se dá, na maioria das vezes, entre os próprios atletas, no campo.

"O diferencial da Europa para o Brasil é que geralmente os casos nos gramados europeus estavam acontecendo de torcida para jogador, quando o jogador pegava na bola, eles imitavam sons de macacos, jogavam bananas no campo. Os casos do Brasil eram justamente o contrário, eram dentro de campo, de jogador para jogador."

Cerqueira citou o caso em que o atacante Grafite, do São Paulo, foi ofendido pelo zagueiro Desábato, do time argentino Quilmes, durante partida realizada no estádio do Morumbi (SP) em abril do ano passado. O argentino foi preso por injúria racista contra Grafite.

Segundo Luciano Cerqueira, foi depois do episódio que a campanha Onde Você Guarda o Seu Racismo? - lançada pelo Diálogos contra o Racismo em dezembro de 2004 – recebeu mais adesões de organizações não-governamentais (ONGs) de todo o país. Segundo ele, atualmente o grupo reúne cerca de 60 instituições da sociedade civil.

No início do ano, as entidades enviaram uma petição contra o racismo, com quase 6 mil assinaturas, à Federação Internacional de Futebol (Fifa, a sigla em francês), à Federação Espanhola de Futebol e à União das Associações Européias de Futebol (Uefa). A iniciativa faz parte da mobilização Mande um Cartão Vermelho para o Racismo no Futebol, coordenada pelo grupo.