Cristiane Ribeiro
Repórter da Agência Brasil
Rio - A Polícia Federal (PF) desarticulou hoje (16), no Rio de Janeiro, a quadrilha que estava trazendo de volta ao Brasil o dinheiro roubado da Previdência Social no final dos anos 80 pela máfia do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), chefiada pela advogada Jorgina de Freitas Fernandes. O dinheiro havia sido depositado nas Ilhas Virgens Britânicas, um paraíso fiscal no Caribe.
Segundo o delegado José Maria Fonseca, que chefiou a operação, chamada Branca de Neve, o esquema seria comandado pelo advogado Armando Avelino Bezerra, que integrava o grupo de Jorgina. Em 1992, ele foi condenado a 12 anos e meio de prisão, mas cumpriu pena somente por quatro anos. Na madrugada desta terça-feira, Bezerra foi preso novamente, na casa onde mora, na zona Oeste da cidade.
A polícia também prendeu o auditor da Receita Federal João da Hora, o contador Cícero Nogueira e Esperidião Fernandes Campos, suposto "homem de confiança" de Bezerra. O delegado informou que eles seriam sócios do advogado em três empresas do setor imobiliário e que desde 1997 "lavavam" o dinheiro enviado pela empresa Villars Holding, estabelecida nas Ilhas Virgens, investindo em imóveis, títulos e obras de arte.
As investigações, acrescentou o delegado José Maria Fonseca, começaram há dois anos. E o que chamou a atenção da Polícia Federal foi a compra, em leilão, de imóveis que haviam pertencido ao próprio Bezerra. "Em 1997 detectamos a primeira inversão de capitais trazidos do exterior para a aquisição de imóveis no Brasil, comprados por meio de empresas montadas exclusivamente com essa finalidade. Os familiares e outros membros da organização serviam como laranjas de maneira pulverizada para não chamar a atenção", afirmou.
Fonseca informou ainda que a operação foi desencadeada pelas evidências de que o dinheiro roubado do INSS estava escondido e, aos poucos, reapareceu. Agora, os documentos apreendidos serão analisados, mas até o momento a Polícia Federal não constatou a participação de Jorgina Fernandes no esquema.
Para o delegado de fiscalização da Receita Federal Antônio César Valério da Silva, em valores atualizados, o rombo nos cofres do INSS seria hoje de R$ 3 bilhões, dos quais apenas 7% foram recuperados. "Com base na documentação que se consegue arrecadar nas buscas temos a expectativa de recuperar esse dinheiro, pois muitas vezes são deixados rastros e a gente consegue identificar se ainda existem recursos no exterior ou não", disse.
A operação Branca de Neve envolveu 135 policiais federais e 22 auditores do Tesouro Nacional, além de procuradores do INSS e do Ministério Público Federal. Os policiais cumpriram 30 mandados de busca e apreensão de documentos, computadores e outros bens, sendo 29 no Rio de Janeiro e um em São Paulo.