Spensy Pimentel
Enviado especial
Viena - Na Europa, a empresa é exemplo: cumpre toda a legislação trabalhista e ambiental, divide lucros com os funcionários, ganha prêmios. Mas, nos países da América Latina, longe da terra natal e dos olhos da imprensa e da sociedade civil dos paises desenvolvidos, o que ocorre?
O comportamento de 30 empresas multinacionais de origem européia será julgado de hoje (10) a sexta-feira (12) por representantes de entidades da sociedade civil da Europa, da América Latina e do Caribe. O Tribunal sobre Políticas Neoliberais e Transnacionais Européias na América Latina e no Caribe é o principal evento do encontro Conectando Alternativas 2, paralelo à 4ª Cúpula União Européia - América Latina e Caribe.
Entre as empresas a serem julgadas, várias têm presença no Brasil, como Aracruz Celulose, Bayer, Unilever, Telefónica, Calvo, Cargill, Bunge, British Tobacco, Benetton e os bancos Santander e ABN Amro. Representantes de movimentos sociais de diferentes países apresentarão relatórios sobre o desempenho das empresas na América Latina e no Caribe: serão discutidas violações de direitos humanos, trabalhistas, ambientais e outros.
O brasileiro Kjeld Jakobsen, do Instituto Observatório Social, ligado à Central Única dos Trabalhadores, apresentará um dos casos, da multinacional de origem anglo-holandesa Unilever, que atua nos setores de alimentação e produtos de limpeza. Segundo ele, no Brasil, a empresa compra fábricas de concorrentes para apropriar-se apenas das marcas, posteriormente demitindo os trabalhadores, sem nenhuma negociação prévia - ele cita o caso da Cica. Em Vinhedo (SP), ainda segundo Jakobsen, a empresa estimulou trabalhadores a desligarem-se de seus sindicatos.
O sindicalista diz que as empresas européias, em geral, diferentemente das companhias norte-americanas, têm mais "cultura de negociação" com os trabalhadores. "Mas nem todas as empresas conseguem levar esse modelo para lá", diz. "No fundo a questão é a mesma. Nas negociações comerciais internacionais, as empresas pedem a mesma coisa: mais facilidades, sem compromissos".
O tribunal das multinacionais é organizado com chancela do Tribunal Permanente dos Povos, criado em 1979 para denunciar à opinião pública internacional casos de violação de direitos humanos. A iniciativa é inspirada no Tribunal Bertrand Russel, que julgou crimes cometidos na guerra do Vietnã, e o Tribunal de Nuremberg, que investigou e julgou os crimes do nazismo, durante a 2ª Guerra Mundial.