Brasília, 9/5/2006 (Agência Brasil - ABr) - Indústrias das regiões Sudeste e Sul do país terão que fazer racionamento imediato de pelo menos 30%, caso haja corte de fornecimento do gás boliviano. A previsão é do diretor-executivo da Associação Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres (Abrace), Paulo Ludmer.
"A associação está circunstancialmente calma, pois não houve corte na entrega do gás e não houve movimentação no preço. Mas não é só volume e preço que interessa. O que se rompeu foi a palavra confiança, a palavra previsibilidade, que para o consumidor é fundamental. Alguns alicerces do mundo dos negócios já estão impactados", afirmou.
A indústria é o maior consumidor de gás natural no Brasil. Dados da Associação Brasileira das Empresas Distribuidoras de Gás Canalizado (Abegás) apontam que somente em janeiro deste ano o país consumiu, em média, 42,7 milhões de metros cúbicos de gás por dia – 27 milhões importados da Bolívia). Desse total, o setor industrial consumiu 53,4%.
Os chamados grandes consumidores industriais, representados pela Abrace, utilizam 40% de todo o gás consumido no país e 25% da energia (parte dela também produzida a partir do gás natural). O faturamento dessas empresas é de cerca de R$ 260 bilhões, o equivalente a 13% do total faturado por todas as empresas do país, a 28,8% do total de exportações e a 26,5% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro.
Segundo Ludmer, a importância do gás em cada processo industrial e em cada região do país é distinta, mas muitas indústrias são totalmente dependentes do gás natural. "O gás boliviano é responsável pela quase totalidade do produto consumido de São Paulo até o Sul. É vital", enfatizou.
Na opinião dele, será necessário estudar opções ao gás natural a partir das incertezas geradas com a nacionalização das reservas bolivianas. "A Petrobras deve estar pensando no biodiesel com mais força, deve estar pensando na gaseificação de óleo combustível. Há várias opções, mas todas elas requerem dinheiro, mais preço, mais sujeira ambiental e um tempo de transição. Tudo isso diminui a competitividade da economia brasileira no curto prazo", avaliou Ludmer, que é membro do Conselho Mundial de Energia e defende a participação dos consumidores na elaboração de qualquer plano de contingenciamento de gás natural voltado a situações emergenciais.
Na última sexta-feira (6), a Abrace entregou carta à ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, e ao ministro de Minas e Energia, Silas Rondeau, com pedido de participação. Também assinam o documento a Associação Brasileira do Alumínio (ABAL), Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), Associação Técnica Brasileira das Indústrias Automáticas de Vidro (Abividro) e Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS).
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