Petrobras importava mão-de-obra estrangeira nos primeiros anos, conta geólogo

20/04/2006 - 11h31

Vitor Abdala
Repórter da Agência Brasil

Rio – Nos primeiros anos da Petrobras, na década de 50, o Brasil ainda não tinha técnicos em número suficiente para fazer uma companhia petrolífera funcionar apenas com mão-de-obra nacional. Por isso, durante algum tempo, a empresa ficou nas mãos de profissionais estrangeiros, principalmente, norte-americanos.

"Era um paradoxo. Uma empresa de monopólio de petróleo no Brasil, que decorria do movimento nacionalista e das esquerdas brasileiras, teve como primeira ação chamar um chefe de exploração no exterior: Walter Link", conta o geólogo Giuseppe Bacoccoli, da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

"Assim que ele chegou na Petrobras ganhou carta-branca para contratar geólogos como quisesse. Todo mundo na Petrobras era estrangeiro. Na área de exploração, só se falava inglês."

Link teria inclusive protagonizado um dos momentos mais polêmicos do início da Petrobras. Após avaliar preliminarmente várias bacias terrestres do país, como no Nordeste e na região amazônica, o norte-americano constatou que o Brasil tinha pouco petróleo e que o país nunca seria auto-suficiente. O levantamento do norte-americano resultou no chamado Relatório Link.

"Quando esse relatório veio a público, os nacionalistas disseram logo que o resultado era óbvio, porque o responsável era um estrangeiro e ex-funcionário de multinacionais, sem interesse em tornar o Brasil auto-suficiente. Aí todo mundo começou a criticar Walter Link, fazendo com que ele saísse, do Brasil, na década de 60, quase às escondidas", afirma o geólogo.

No relatório, Link ainda teria dado uma recomendação à Petrobras. "Sobre o mar, ele diz que não conhecia as bacias sedimentares marítimas e que não poderia opinar. Mas ele afirmava que, se a Petrobras quisesse achar muito óleo, ela teria que ir para o exterior", diz o pesquisador da UFRJ. "Até hoje na Petrobras tem gente que diz que o Relatório Link estava certo e tem gente que diz que ele está errado, que deveria ter se preocupado mais com o mar."

O economista André Furtado, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), diz que Link foi mal interpretado e que seu relatório não estava completamente errado. "Ele disse que petróleo em terra era escasso e que, provavelmente, as oportunidades se dariam no mar. E isso se verificou posteriormente", destaca.

Furtado conta ainda que a contratação de técnicos estrangeiros era mesmo necessária, uma vez que não havia recursos humanos e tecnológicos disponíveis no Brasil. "No início da Petrobras, você não tinha uma indústria do petróleo no Brasil. Existia apenas o Conselho Nacional de Petróleo (CNP), que tinha uma estrutura muito débil", lembra.

"Você não tinha universidades e nem formação de engenheiros ou geólogos para operarem nessa área. Era preciso recorrer ao conhecimento externo. E foi isso que garantiu sucesso na fase inicial da Petrobras."

Segundo Furtado, quando a Petrobras começou a atuar, o Brasil produzia apenas seis mil barris de óleo por dia. No início dos anos 60, a produção teria alcançado a cifra de 100 mil barris. "É um salto considerável. Isso só foi possível graças à importação maciça em tecnologia. Uma parte importante da industrialização deu-se neste contexto."