Operação no Rio está desmoralizando Exército, considera especialista em segurança

14/03/2006 - 18h41

Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil

Rio – A ação empreendida nos morros cariocas para recuperação de armamento roubado no último dia 3 do Quartel de São Cristóvão já provocou a desmoralização do Exército. A avaliação é de Ronaldo Leão Correa, diretor de Estudos de Segurança do Núcleo de Estudos Estratégicos (Nest), da Universidade Federal Fluminense (UFF).

Leão considerou que é correta a estratégia adotada de ocupação das favelas, que hoje se ampliou até a Rocinha. Só que ela não deveria ter sido feita pelos militares mas, sim, pela polícia. "Essa operação asfixia é a operação correta, mas usando o instrumento errado, porque isso não é missão nem função do Exército", disse o diretor do Nest.

Na avaliação de Leão Correa, a polícia deveria fazer esse tipo de operação "em caráter permanente". Ele mostrou que quando a polícia atrapalha o chamado "varejo do tráfico de drogas", começa a quebrar a espinha desse tipo de negócio. "Não adianta ficar nissoporque a única coisa que funciona é o seguinte: se o cara não consegue vender, o outro não consegue comprar", afirmou.

Para o especialista em segurança, essa ação de vigilância permanente da polícia deve ser feita nos locais onde o tráfico de drogas é mais forte, com equipes realizando incertas para impedir que o tráfico migre de um local para outro.

Segundo o especialista, a saída é o Exército continuar cumprindo sua missão de defender o país e a polícia ter o efetivo, treinamento e equipamento necessários para o exercício dessa operação permanente de vigilância e repressão ao tráfico de drogas. Hoje existem no Rio de Janeiro 600 favelas e a Polícia Militar tem um efetivo de 38 mil homens, dos quais oito mil são funcionários burocráticos, de férias ou licença. Dos restantes 30 mil policiais, há os que trabalham de dia por 12 horas e folgam 24 horas e os que trabalham 12 horas à noite e folgam 48 horas.

Para o especialista, a polícia não funciona no país "porque há um século que polícia e defesa nacional, envolvendo Exército, Marinha e Aeronáutica, são a 10ª prioridade de qualquer governo". As polícias nunca foram preparadas nem valorizadas, acentuou. A culpa dessa situação de crise na segurança pública, entretanto, não é do atual governo federal. "O governo Lula, como todos os outros, foi herdeiro de uma herança calamitosa que vem de décadas. Falta à gente realmente estômago para tomar as atitudes devidas".

Ronaldo Leão afirmou que a manutenção dos militares desempenhando uma função que não é própria deles poderá ter dois resultados: "ou você vai ter uma tropa do Exército massacrada pelos traficantes ou vai ter um contingente da população massacrado por uma tropa enfurecida". Conforme esclareceu, "o traficante pode ser inculto, pode ser um canalha, mas não é burro. Ele sabe que os militares não vão dar tiro de canhão na favela".