Lançado projeto para desenvolver economia solidária em comunidades carentes

14/03/2006 - 14h17

Irene Lôbo
Repórter da Agência Brasil

Brasília – Com o propósito de gerar trabalho e renda em comunidades pobres com poucos empregos formais, o Ministério do Trabalho e Emprego lançou hoje (14) o Projeto de Promoção de Desenvolvimento Local e Economia Solidária. Até sexta-feira (17), serão formados 251 agentes de desenvolvimento solidário que serão responsáveis por incentivar esse tipo de prática nas comunidades.

O programa deverá atender, até fevereiro de 2007, agentes de municípios de 26 estados e do Distrito Federal. O público-alvo do projeto são as comunidades quilombolas, indígenas e de mulheres, jovens, catadores, trabalhadores desempregados, da agricultura familiar e do turismo sustentável.

"Os agentes de desenvolvimento são pessoas das próprias comunidades, dos próprios segmentos que estão sendo beneficiados com projetos. Eles são capacitados e recebem uma remuneração [R$ 400] para desenvolver uma atividade de apoio e fomento à organização de empreendimentos coletivos solidários", explicou o diretor da Secretaria Nacional de Economia Solidária (Senaes), Dione Manetti.

Maria Rosalina dos Santos foi escolhida para ser a agente de desenvolvimento solidário do quilombo Tapuia, no Piauí. Ela conta que, no final do ano passado, as 29 famílias do quilombo resolveram se organizar e trabalhar juntas para obter renda. Hoje são cerca de 150 pessoas que atuam na agricultura de subsistência, na criação de animais (bode e ovelha) e na produção de sabonetes artesanais. A produção já é vendida em encontros e feiras por todo o país.

"Esse momento é o resultado da luta do movimento quilombola em nível nacional, que, ao longo da história, tem lutado em defesa da garantia de nossa inclusão dentro das políticas públicas de ação afirmativa. Entendemos que o governo Lula, juntamente com o conjunto dos ministérios, tem reconhecido que o Estado brasileiro tem essa dívida histórica para com essa população", afirmou.

Outra experiência é a dos jovens agricultores do Rio Grande do Sul. O agente de desenvolvimento solidário do grupo, André Mombach, disse que o objetivo de criar as associações é tentar manter os filhos dos agricultores no campo. Atualmente existem 18 associações desse tipo, que produzem hortifrutigranjeiros e empregam 300 jovens desde setembro do ano passado.

Ele destacou a importância da economia solidária para esses jovens, afirmando que se trata de uma série de políticas e ações que melhoram as condições para a permanência do jovem no meio rural. "Temos hoje problemas fortes no sentido da falta de terra para que esse jovem possa continuar no meio rural, e a questão também da alternativa de produção", ressaltou Mombach.

Um levantamento do Senaes indica que existem em todo o país cerca de 15 mil empreendimentos econômicos solidários, reunindo 1,2 milhão de trabalhadores. A Região Nordeste abriga a maioria dos empreendimentos (44% do total), seguida pelas regiões Sul (17%), Sudeste (14%), Norte (13%) e Centro-Oeste (12%).

As associações representam 54,4% dos empreendimentos solidários. Em seguida, vêm os grupos sem formalização, com 32,38% dos casos, e as cooperativas, com 10,69%. As áreas escolhidas para os empreendimentos são agricultura e pecuária (64%), atividades têxteis, confecções, calçados e artesanato (21%), prestação de serviço (14%) e alimentação (13%).