Marcela Rebelo
Repórter da Agência Brasil
Brasília – A revisão do processo de privatização da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) ainda não começou. A 5ª Turma do Tribunal Regional Federal, em Brasília, determinou, em outubro do ano passado, que uma perícia checasse uma possível subavaliação do patrimônio da ex-estatal. A empresa foi vendida no governo Fernando Henrique Cardoso, em maio de 1997, por cerca de R$ 3,3 bilhões.
A deputada Socorro Gomes (PCdoB-PA), autora de uma das ações contra a privatização, disse hoje (5) que a perícia só vai começar a reavaliar os procedimentos depois que a Justiça analisar os recursos dos réus envolvidos no processo. "A União pediu um embargo declaratório, que é uma forma de postergar o prazo de defesa. Depois de vencido esses trâmites, as partes serão ouvidas e a Justiça irá determinar uma perícia independente e multidisciplinar para realizar os trabalhos", afirmou a deputada em entrevista à Agência Brasil. Segundo ela, o prazo para os recursos terminou em fevereiro deste ano.
Socorro disse que ficou à frente da ação assinada, em 1996, pela bancada do PCdoB. "Foi a primeira ação contra a venda da Vale, antes mesmo dela ter sido vendida. Somente 10 anos depois a Justiça Federal faz um parecer negando o arquivamento do processo", ressaltou. Ela afirmou que existem aproximadamente 100 ações populares questionando o processo de privatização, todas elas encaminhadas ao Pará.
"O juiz federal do estado do Pará, para onde vieram todas as ações populares, tinha determinado a extinção dos processos porque a Vale já tinha sido vendida. Mas a 5ª Turma determinou que seja revista a venda da Vale", observou Socorro. No dia 2 de fevereiro deste ano, foi publicada a decisão da desembargadora federal Selene Maria de Almeida em que anula a sentença de extinção dos processos. A deputada destacou que entre os réus da ação estão a União, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Socorro argumenta que a Vale do Rio Doce foi vendida a um preço mais baixo do que realmente valia. À época, empresas de consultoria chegaram a avaliar a empresa até 11 vezes a mais do que o valor arrematado. "A única avaliação depreciativa foi aceita pelo governo federal e pelas empresas determinadas por ele", disse a deputada.
Na opinião de Socorro, não havia motivos para o governo privatizar a empresa. "Por que a Vale estava na lista das empresas a serem privatizadas, se era rentável? Ela não dava prejuízos. A União desde 1990 não colocava um tostão na Vale e, ainda assim, a cada ano ela se modernizava, aumentava o seu mercado. Enfim, era uma empresa de excelência", destacou.