Rede internacional de agricultores espera formação de bloco de países em favor da reforma agrária

05/03/2006 - 19h00

Spensy Pimentel
Enviado especial

Porto Alegre – A Via Campesina, rede de movimentos sociais de pequenos produtores, trabalhadores rurais, sem-terra e indígenas com presença em 56 países, espera a formação de um bloco de países em favor da reforma agrária durante a 2ª Conferência Internacional sobre Reforma Agrária e Desenvolvimento Rural, evento promovido pelo Fundo das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO) esta semana (6 a 10).

Entre os países que a Via considera aliados potenciais da causa da reforma agrária estão Brasil, Bolívia, Venezuela, Argentina, Uruguai, Cuba, Mali, África do Sul, Indonésia e Nepal, entre outros. No caso do Brasil, apesar de fazer críticas ao andamento das políticas públicas de reforma agrária, as entidades consideram que ainda há tempo para mudar. "Temos esperança de que o Brasil possa vir a ser um exemplo", disse hoje (5) Rafael Alegria, representante da Via Campesina de Honduras. "Temos esperança em Lula, que vem da classe trabalhadora."

Os movimentos sociais de todo o mundo organizam encontros paralelos à conferência, inclusive marchas de protesto. "As marchas não são contra a FAO, senão pela nossa exigência de reforma agrária", disse Alegria. "Só temos um propósito: exigir os direitos de nossos povos."

A Via Campesina, da qual fazem parte entidades brasileiras como o Movimento dos Sem Terra (MST) e a Comissão Pastoral da Terra (CPT), realizou hoje uma coletiva de imprensa para divulgar as posições que defenderá durante a conferência.

As entidades dizem que irão manter o diálogo com o evento oficial, a despeito das restrições em relação à organização da conferência. "Não estamos boicotando. Nossa crítica é no sentido de como foi construído o processo", disse hoje Egídio Brunetto, integrante da coordenação nacional do MST.

A Via Campesina considera que deveria haver mais tempo para mobilizar os movimentos sociais para contribuir com a conferência. "A debilidade do evento consiste nisto: os povos indígenas e camponeses não estão informados de que está acontecendo uma conferência mundial sobre a reforma agrária no Brasil", afirmou Alegria.

A 2ª Conferência Internacional sobre Reforma Agrária e Desenvolvimento Rural, evento organizado pelo Fundo das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO), em parceria com o governo brasileiro, acontece a partir de segunda-feira (6) e segue até sexta (10), na capital gaúcha.