Irene Lôbo
Repórter da Agência Brasil
Brasília – Apesar de não ser uma droga com consumo monitorado pela Junta Internacional de Fiscalização de Entorpecentes (Jife), organização que auxilia as Nações Unidas nesse tema, os antidepressivos também são medicamentos em franca expansão de consumo. Quem afirma é o professor Elisaldo Carlini, integrante da Jife e diretor do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid).
"Tem havido um uso exagerado de antidepressivos, isso tem sido noticiado no mundo, agora com um agravante. Como um dos antidepressivos também reduz o apetite, ele está sendo usado de uma maneira completamente adoidada, irresponsável, para emagrecer. Já sabemos de várias farmácias cujo grande movimento agora de fazer receita não é mais dessas drogas tipo anfetamina, mas é, por exemplo, um antidepressivo", afirma Carlini.
Ele explica que esse antidepressivo com função emagrecedora tem vários efeitos colaterais. "Medicamento é uma coisa que não é para ser metido goela abaixo sem uma responsabilidade grande de quem receita e quem usa. Tem que fazer uma avaliação de qual é o risco e qual é o benefício. Não há medicamento sem risco", diz o professor.
O Cebrid recebeu no ano passado um levantamento de algumas vigilâncias sanitárias estaduais sobre o consumo de antidepressivos. Em Florianópolis (SC) e Ribeirão Preto (SP), por exemplo, os antidepressivos foram as drogas mais vendidas pelas farmácias de manipulação, chamadas magistrais.
"Não há dúvida nenhuma de que a classe médica tem uma participação nesse fenômeno que estamos descrevendo. Não são todos os médicos, são poucos, mas que afetam a visibilidade da seriedade que a medicina deve ter. Um levantamento mostrou que um só médico prescreveu em um ano cerca de nove mil fórmulas para emagrecer", conta Carlini.
Para o professor, é preciso alertar constantemente os profissionais de saúde e o público em geral. Ele também faz elogios à legislação brasileira de combate às drogas. "Se for seguida a rigor, é excelente nesse aspecto, porque há uma possibilidade de punir qualquer pessoa que saia do campo estrito da lei".