Conheça a história recente do Haiti, o país mais pobre das Américas

16/02/2006 - 9h23

Aloisio Milani
Repórter da Agência Brasil

Brasília – Após 202 anos da proclamação da independência do Haiti, a história de sua república negra pode ser contada por fatos marcantes, como a rebelião de escravos que libertou a ex-colônia francesa, mas também pela instabilidade política, recortada por ditaduras sangrentas e sucessivas interferências externas.

Durante a colonização, o antigo modelo de plantation, baseado no latifúndio para a monocultura da cana-de-açúcar destinada aos mercados europeus recrutou negros como escravos na África. A partir da liderança de Toussaint L´Ouverture, uma rebelião de escravos lutou pela independência do país em relação à França.

O período da Guerra Fria, polarizado entre Estados Unidos e União Soviética, foi marcado no Haiti por uma ditadura longa e sangrenta da família Duvallier. Primeiro, o presidente eleito Fraçois Duvallier, conhecido como "Papa Doc", ficou no poder amparado numa milícia violenta chamada Tonton Macoutes. Era a forma de reprimir os dissidentes políticos e possíveis novas forças de oposição.

Após sua morte, em 1971, seu filho Jean-François Duvallier, mais conhecido como "Baby Doc" assumiu o poder para manter o legado ditatorial no país. A situação perdurou até 1986, quando uma série de manifestações obrigou o ditador a deixar o país e se exilar na França. Já era então um movimento influenciado pelo líder religioso Jean Bertrand Aristide, adepto da teologia da libertação. O berço político de Aristide era a maior favela do Caribe, Citè Soleil, localizada ao norte da capital Porto Príncipe e ainda hoje uma região muito pobre e violenta.

Aristide despontou como nova liderança no país reprimido por anos de ditadura. Foi eleito com mais de 60% dos votos em dezembro de 1990. Contudo, sete meses após sua posse, militares tomaram o poder instalaram nova ditadura. Não há números corretos, mas os haitianos estimam que cerca de cinco mil partidários do Lavalas, partido de Aristide, foram assassinados nesse período.

O exílio de Aristide nos Estados Unidos ajudou a desencadear uma missão militar no governo Bill Clinton para restabelecer Aristide no poder. O ex-presidente aceitou implementar em seu retorno uma política conservadora na economia com base nos programas de ajustamento do Fundo Monetário Internacional (FMI).

A eliminação das tarifas de importação destruiu, por exemplo, a produção de arroz do país. Segundo dados da organização não governamental Oxfam, as importações do produto que eram de sete mil toneladas em 1985 passaram para 220 mil toneladas em 2002. O período comandado novamente pelo Lavalas teve continuidade com o presidente Renè Preval após 1995.

Em 1998, temendo novo golpe de Estado, o governo extinguiu por decreto, sem nenhum forma de compensação, o exército nacional. A partir de então, a Polícia Nacional do Haiti executa as funções de defesa, vigilância e repressão de crimes no país.

Quando Aristide estava novamente no poder, em 2004, uma série de manifestações armadas, marchando o interior para a capital Porto Príncipe, exigia a saída do presidente. Em fevereiro, os fuzileiros norte-americanos aterrisaram na capital e levaram Aristide para o exílio. Foi instituído um governo provisório e a ONU enviou uma missão de paz, que continua no país até hoje.