Brasil e Índia entraram no jogo de poder da OMC, critica sociólogo filipino

04/02/2006 - 8h08

Daniel Merli
Enviado especial

Caracas (Venezuela) – O sociólogo filipino Walden Bello, dirige um centro de estudos sobre comércio internacional chamado Focus on the Global South – Foco no Sul do Planeta, numa tradução literal. O objetivo de suas pesquisas é apontar perdas que os países pobres podem ter em acordos internacionais, principalmente dentro da Organização Mundial do Comércio (OMC).

Bello está atualmente preocupado com a liderança que Brasil e Índia assumiram do chamado G 20 – grupo de países que pede a redução dos subsídios agrícolas à OMC. "Brasil e Índia foram cooptados pela estrutura de poder da organização", criticou, em entrevista à Agência Brasil, durante sua participação no 6º Fórum Social Mundial, em Caracas.

A última reunião da OMC, em Hong Kong, terminou com um "acordo ruim" e, em sua avaliação, Brasil e Índia foram essenciais para que isso ocorresse. Bello acredita que, em troca de pequenas concessões na área de agricultura, os governos dos dois países aceitaram iniciar a negociação da abertura do mercado de produtos industriais. Para ele, a redução de tarifas nessa área seria extremamente nociva à indústria dos países do Sul do planeta.

Bello reconhece o papel de liderança dos dois governos, principalmente, segundo ele, pela ação de Celso Amorim, ministro brasileiro das Relações Exteriores. Mas acha que os dois países têm exercido essa liderança de forma negativa, aceitando acordos prejudiciais para os países pobres.

O motivo, segundo ele, seria apenas a afirmação do poder indiano e brasileiro dentro da "burocracia da OMC". "Fora isso, é difícil imaginar o que podem ganhar, já que os avanços em agricultura são muito pequenos", diz.

O filipino admite que a liderança de ambos os países não é um fato que "pode ser subestimado". "Os quatro governos que definiam as decisões da OMC, antes, eram Canadá, Japão, Estados Unidos e União Européia. Hoje, Brasil e Índia substituíram os dois primeiros". Mas acha que essa liderança deveria ser melhor aproveitada, pelos dois governos, em prol de acordos mais vantajosos para o Sul.