Spensy Pimentel
Enviado especial
Caracas (Venezuela) - Uma rede de estudiosos e ativistas articulada por uma organização da sociedade civil com base no Canadá vai monitorar o ciclo eleitoral que acontece este ano na América Latina. O objetivo é denunciar publicamente o que é considerado "intervenção política" dos Estados Unidos e das instituições multilaterais como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional nesses pleitos.
A organização não-governamental Pueblos en Camino apresentou painel durante o 6º Fórum Social Mundial, encerrado neste domingo (29), para mostrar como uma linha de atuação da política externa dos Estados Unidos e de países europeus denominada "promoção da democracia" mascara na América Latina o apoio a projetos políticos que confrontam movimentos populares de esquerda contrários aos interesses econômicos das grandes corporações multinacionais.
A "promoção da democracia" deve custar US$ 2,5 bilhões aos cofres públicos norte-americanos em 2006, segundo estima Jonah Gindin, diretor do projeto, intitulado "Em Nome da Democracia". O que a ONG pretende demonstrar ao longo do ano, explica ele, é que, por meio de organizações e fundações internacionais aparentemente independentes, mas que na verdade recebem dinheiro do governo norte-americano, essas verbas são direcionadas para grupos potencialmente capazes de sustentar interesses das grandes empresas, como o livre comércio.
Ao longo de 2006, realizam-se eleições em mais de dez países latino-americanos, estima a ONG. Estão em disputa os governos centrais de nações como México, Peru e Nicarágua, além da eventual reeleição de presidentes de esquerda como Hugo Chávez, da Venezuela, e Luiz Inácio Lula da Silva, do Brasil.
Segundo a Pueblos en Camino, entre as entidades que servem para ocultar esse apoio aos grupos partidários de posições liberais estão o National Endowment for Democracy, presente em 80 países, além de vários institutos que teoricamente promoveriam a democracia e os valores republicanos nos países em desenvolvimento. Essas instituições fazem o papel de intermediárias. No fim da linha, estão partidos e candidatos afinados com os ideais liberais.
A Pueblos en Camino pretende divulgar, dois meses antes de cada eleição, os relatórios sobre as conexões encontradas entre as transferências de fundos e os candidatos e partidos envolvidos nos pleitos. "Não somos apenas estudiosos, somos ativistas. Queremos denunciar essa interferência indevida", diz Gindin.
Ele explica que, apesar de a percepção sobre a interferência estrangeira já ser muito difundida na América Latina, para a população dos Estados Unidos e da Europa esse é um tema desconhecido. "Por lá, não há debate sobre isso. As pessoas pensam que estão ajudando seus 'irmãozinhos' do sul a organizar-se, democratizar-se. Por isso, temos uma tarefa pedagógica. As pessoas estão sendo usadas, sem saber".
Os integrantes da Pueblos en Camino também apontam como exemplos de países onde a ação de promover a democracia já atuou decisivamente contra governos de esquerda a Nicarágua (contra os sandinistas), a Venezuela (contra Hugo Chávez) e o Haiti (contra Jean Bertrand Aristide). No Brasil, segundo Gindin, dadas as dimensões do país e a quantidade de interesses envolvidos na eleição deste ano, ainda falta montar uma equipe adequada para fazer o acompanhamento.