Paulo Montoia
Repórter da Agência Brasil
São Paulo – Os casos de violência policial contra moradores de favelas e bairros pobres do Rio de Janeiro e de São Paulo, relatados pelos observadores da Anistia Internacional, estão desde ontem (2) disponíveis na seção de notícias da entidade e estão traduzidos para o inglês, o espanhol e o francês e, em breve, para o árabe.
Os casos estão no documento "Eles Entram Atirando – Policiamento de Comunidades Socialmente Excluídas no Brasil", com 52 páginas, divulgado de maneira simultâne em todo o mundo. Ele dará origem a uma campanha com duração de um ano.
O relatório traz casos pouco divulgados da atuação policial no Brasil nas duas capitais e outros amplamente difundidos, como o assassinato de 29 pessoas, entre adultos e jovens, por um grupo de extermínio na Baixada Fluminense, na região metropolitana do Rio de Janeiro, em 31 de março deste ano.
A Anistia Internacional reproduz, por exemplo, trechos de uma canção que seria entoada durante o treinamento de soldados do Batalhão de Operações Especiais (Bope), da Polícia Militar do Rio de Janeiro. A letra foi enviada por um morador do Parque Guinle ao jornal O Globo, publicada na seção de cartas em 24 de setembro de 2003 e diz: "O interrogatório é muito fácil de fazer, pega o favelado e dá porrada até doer. O interrogatório é muito fácil de acabar, pega o favelado e dá porrada até matar".
Em outro trecho, o relatório destaca uma operação policial no Parque novo Mundo, na zona norte de São Paulo, iniciada às 2 horas do dia 27 de julho de 2004, horas depois de uma visita da Anistia Internacional.
"Cerca de 20 policiais militares uniformizadas da 5ª Companhia do 5º Batalhão invadiram um conjunto habitacional, entrando à força e, segundo informações, saqueando nove apartamentos. A polícia deteve uma adolescente de 15 anos que teria sido forçada a tirar a roupa e obrigada a acocorar-se nua por 25 vezes. Uma policial teria ainda quebrado um cabo de vassoura na sua cabeça. A garota foi levada pela polícia e mais tarde liberada por pressão de grupos locais de direitos humanos. A polícia alegou ter um mandado de busca, mas os moradores dizem que este não lhes foi apresentado. Eles também informam que os policiais militares removeram ou cobriram seus crachás de identificação e que as viaturas policiais ficaram estacionadas distante do local, impossibilitando a identificação das placas".
A Anistia Internacional solicitou informações sobre o incidente e uma cópia do mandado ao comando da Polícia Militar de São Paulo, "mas não recebeu qualquer resposta".