Relator diz que faltou a Dirceu ''o sentido das limitações''

30/11/2005 - 21h08

Brasília, 30/11/2005 (Agência Brasil - ABr) - O relator do processo contra o deputado José Dirceu (PT-SP), deputado Júlio Delgado (PSB-MG), defendeu, no plenário da Câmara, a cassação do mandato de Dirceu por quebra de decoro parlamentar. Delgado afirmou que o ex-ministro exerceu o mandato com paixão e que a paixão tomou conta do exercício do seu mandato, mas sem a devida consciência de que o seu poder político deve ter limitações.

"O sentido das limitações. Este, certamente, talvez tenha faltado ao deputado José Dirceu", disse. E acrescentou: "Faltou-lhe o sentido do que poderia e deveria fazer e do que não poderia fazer em nome do povo brasileiro e representando a Casa".

Delgado iniciou seu pronunciamento informando que o Supremo Tribunal Federal havia determinado a retirada, do seu relatório, do depoimento da presidnete do Banco Rural, Kátia Rabelo, e que a Mesa da Câmara cumpriu a determinação. "Alegam que não existem provas para cassar o deputado José Dirceu, só que mesmo retirando aqueles dados do nosso relatório há ainda uma fartura de provas, de relações promíscuas, de favorecimentos indevidos, de abuso da máquina pública. Permanecem em nosso relatório provas robustas que autorizam o juízo condenatório por parte deste Plenário da Câmara dos Deputados", disse.

Segundo o relator, "ninguém pede a perda de seu mandato pela sua história e pelo seu passado. Mas justamente porque, com suas atitudes como Chefe da Casa Civil, tenha negado o passado e a história de trajetória". Delgado destacou que Dirceu "teve muito mais direito de defesa do que qualquer cidadão deste país, qualquer parlamentar que passou por este Congresso. O direito do cidadão, deputado José Dirceu, é o mais amplo de que se tem notícia na história da nossa República. Eu uso aqui uma palavra de um companheiro do nosso Conselho: nunca vi alguém poder se defender tanto, em tantas instâncias e por tanto tempo".

Delgado negou as teses de que a defesa do ex-ministro teria sido cerceada e de que não há provas contra o parlamentar. "Há uma fartura de provas de favorecimento indevido e de abusos da máquina pública. Dirceu é o principal envolvido no escândalo do vazamento de recursos por meio de Marcos Valério para vários partidos e parlamentares", afirmou.

E acrescentou: "Tivemos coragem de reconhecer e admitir que esse esquema que chamamos de governabilidade de amor remunerado só alcançaria êxito em ambiente promíscuo, ambiente que temos o dever de sanear para recuperar a nossa auto-estima e a credibilidade desta instituição que tanto prezamos".