Violência da polícia carioca atinge três vezes mais negros que brancos, segundo relatório da ONU

18/11/2005 - 18h02

Fernanda Muylaert
Da Agência Brasil

Brasília - A violência praticada pela instituição responsável por proteger os cidadãos brasileiros - a polícia - atinge três vezes mais negros do que brancos no Rio de Janeiro. De acordo com o Relatório de Desenvolvimento Humano 2005 - Racismo, pobreza e violência, divulgado hoje (18) pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), registros de ocorrências da Polícia Civil carioca entre janeiro de 1998 e setembro de 2002 indicam que 1.018 negros foram mortos por policiais. Entre os brancos, os números caem para 370.

O relatório mostra ainda que esses dados são semelhantes aos encontrados por um estudo da capital fluminense sobre o período de 1993 a 1996. O trabalho revelava que negros tinham, na época, um peso 61% maior entre as vítimas de ações da polícia do que a população em geral.

O documento afirma que "o peso desproporcionalmente alto dos negros entre as vítimas mortas nas ações policiais constitui claro indício da existência de viés racista nos aparelhos de repressão". Além disso, "a probabilidade de negros morrerem em confrontos com a polícia é muito maior nas favelas, que são os locais em que o número de mortos pela polícia é maior".

O racismo na atuação dessas forças de repressão, segundo o relatório, além de ilegal, tende a produzir efeitos nas etapas do sistema de justiça criminal brasileira, que vai das denúncias dos ministérios públicos às sentenças judiciais e às aplicações de penas.

O relatório elaborado pela Organização das Nações Unidas (ONU) contou com a participação de 30 pesquisadores. Além de fazer um levantamento atual sobre a violência no país, o documento aborda indicadores nas áreas de renda, educação, saúde, emprego e habitação.