Brasil negro estaria em 105º lugar no Índice de Desenvolvimento Humano, aponta estudo da ONU

18/11/2005 - 19h40

Brasília, 18/11/2005 (Agência Brasil - ABr) - O índice que mede a qualidade de vida dos habitantes de um país, chamado de Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), coloca o Brasil no 73º lugar entre todos os países. O IDH brasileiro é de 0,766, considerado médio na definição da Organização das Nações Unidas (ONU), entidade que criou o parâmetro para indicar a qualidade de vida de uma população.

Estudo divulgado hoje (18) pela agência da ONU para o desenvolvimento – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) – aponta que o IDH no Brasil esconde uma desigualdade profunda entre brancos e negros. Chamado Relatório de Desenvolvimento Humanos Brasil 2005 – Racismo, Pobreza e Violência, o estudo mostra que, se os dois grupos fossem divididos em países distintos, o Brasil branco ocuparia a 44ª posição no IDH e o Brasil negro estaria na 105ª. O IDH da população branca seria 0,814, considerado alto na medição da ONU, e o da população negra, formada por pretos e pardos, seria 0,703 – número que está na faixa mediana.

Assim, os negros estariam num país com índice semelhante ao de El Salvador e pior que o do Paraguai. Os brancos seriam de um país em condições superiores às da Croácia e semelhantes às da Costa Rica. Os técnicos usaram dados de dois documentos para comparar o Brasil a outros países, o Relatório de Desenvolvimento Humano do Pnud de 2002 e o Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil, que reúne indicadores do Censo 2000 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

"O desenvolvimento humano da população negra e da população brasileira como um todo exige a superação dos obstáculos expostos no relatório. A realização do Brasil como sociedade justa e igualitária só se dará com o concreto reconhecimento da contribuição decisiva que a população negra prestou à construção do Brasil", disse o editor-chefe do relatório Carlos Lopes.

Um dos dados que consta no Atlas é o IDH-M, uma adaptação do índice dos países, que mede a qualidade de vida nos municípios e estados brasileiros. Usando o IDH-M, o relatório divulgado hoje pelo Pnud aponta que as desigualdades raciais se entrelaçam com as desigualdades regionais. Há mais brancos e negros pobres no Nordeste do que no Sudeste. Os brancos na região Sudeste têm IDH-M de 0,833 e os negros do Nordeste, de 0,652. Os índices correspondem, respectivamente, à 37ª e à 115ª posições de IDH no ranking de países, ocupadas por Polônia e Bolívia.

O relatório aponta também que a desigualdade regional não é suficiente para explicar as diferenças entre brancos e negros. Em 2000, por exemplo, não havia região ou estado brasileiro em que o IDH-M da população negra fosse maior que o da branca. Nas três dimensões do índice regional/municipal – longevidade, educação e renda –, os brancos também estão à frente dos negros.