Márcia Detoni
Enviada especial
Túnis (Tunísia) – Críticas aos resultados da Cúpula Mundial da Sociedade da Informação – organizada pela Organização das Nações Unidas (ONU) – nos discursos e nas declarações públicas. Nos bastidores, os ativistas da sociedade civil compartilham um sentimento de vitória em relação a atenção que conseguiram atrair, nos últimos anos, para o impacto social e econômico da novas tecnologias de informação e comunicação (TICs).
Na declaração final da cúpula, os mais de 170 países presentes no encontro não prometem dinheiro público para ações de inclusão digital, não reconhecem explicitamente o direito à comunicação, mantêm o controle dos códigos de acesso a internet nas mãos dos Estados Unidos e ignoram os apelos do movimento de mulheres por políticas de gênero. Mas isso não chegou a ser nenhuma surpresa para a sociedade civil.
"Nunca esperei nada desse encontro", afirmou Seán Ó Siochrú, representante da Cris, organização não-governamental (ONG) que faz campanha pelo direito a comunicação. "Isso não significa que a Cúpula de Genebra, em 2003, e a Cúpula de Túnis tenham sido inúteis."
Para o ativista da Cris, a sociedade civil foi a grande vencedora da cúpula. "Os movimentos sociais saem energizados. Eles construíram argumentos, criaram alianças e podem utilizar as declarações do encontro como ferramenta de campanha pela inclusão digital", comentou.
Esta também é a opinião da ativista brasileira Magaly Pazello, da ONG internacional Rede Down (Desenvolvendo Alternativas com Mulheres para uma Nova Era). "Há problemas com os documentos, mas pelo menos temos algo em mãos para a fase seguinte" disse ela.
"A Cúpula da Mulher em Pequim também foi muito difícil e acabou abrindo oportunidades e produzindo avanços", acrescentou filipina Chat Garcia Ramilo, coordenadora da ONG Programa de Apoio a Redes de Mulheres.
Seán Ó Siochrú, da Cris, salienta que o processo diplomático é lento, exige consenso. "A declaração final foi até onde os países conseguiram chegar", comenta. O importante, no dizer dele, é que a cúpula inaugurou um processo de discussões e negociações em torno de temas fundamentais para o desenvolvimento: quem detém os direitos sobre a informação e o conhecimento, quem controla a distribuição desses conteúdos e quem se beneficia com o processo.
A negociação internacional proposta pela cúpula acabou, mas as discussões continuam em outros níveis. Os movimentos sociais voltam suas baterias agora para os governos de cada país. A reivindicação é clara: políticas públicas eficazes que incluam as populações pobres na nova sociedade da informação e impeçam o aprofundamento da exclusão social.