Deputado nega no Conselho de Ética ter recebido dinheiro do esquema de Marcos Valério

17/11/2005 - 22h22

Brasília, 17/11/2005 (Agência Brasil - ABr) - O deputado Wanderval Santos (PL-SP) negou hoje (17), em depoimento no Conselho de Ética da Câmara, que tenha sido beneficiário do esquema de repasse de dinheiro das empresas de publicidade de Marcos Valério de Souza, o chamado "valerioduto". O parlamentar responde a processo de cassação pelo fato de seu motorista, Célio Marcos Siqueira, ter sacado R$ 150 mil na agência do Banco Rural em Brasília.

Wanderval Santos revelou que o ex-deputado Carlos Rodrigues (ex-bispo Rodrigues) tinha liberdade para interferir no funcionamento dos gabinetes dos deputados ligados à Igreja Universal do Reino de Deus. Segundo Wanderval Santos, qualquer funcionário de seu gabinete podia atender pedidos do ex-parlamentar. Ele informou ainda que seu motorista atendeu a outros pedidos particulares, como fazer compras ou levar a filha à faculdade.

Ao negar as acusações, Wanderval Santos disse ainda que, pela hierarquia da igreja, "o mandato não é do parlamentar, é da igreja Universal". O parlamentar abriu seus sigilos bancário, fiscal e telefônico ao Conselho de Ética. E afirmou que continua fiel à Universal, mas não permite mais que os funcionários de seu gabinete fiquem subordinados ao comando da igreja. Segundo o deputado, o motorista não foi punido por ter seguido "a orientação que vigorava".

Integrante do Conselho, o deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP) disse que quem conhece a Igreja Universal sabe que Wanderval Santos não poderia perguntar ao coordenador político da igreja (bispo Rodrigues) sobre a origem do dinheiro que recebia. O líder do PL, Sandro Mabel (GO), defendeu a inocência de Wanderval Santos e informou que todos os deputados ligados à Igreja obedeciam à orientação de Carlos Rodrigues.

Para o presidente do Conselho, Ricardo Izar (PTB-SP), a revelação de Wanderval "foi chocante para uma Casa Legislativa que tem seus partidos políticos". Segundo Izar, o depoimento foi "normal" e o parlamentar confessou que foi o ex-deputado Carlos Rodrigues quem recebeu o dinheiro.

O relator do processo, deputado Chico Alencar (PSOL-RJ), disse que o fato de o depoente ter revelado que seu mandato estava submetido ao de outro deputado, por hierarquia religiosa, "é grave e precisa ser mais bem apurado". E completou: "Isso soa muito mal".