Spensy Pimentel
Enviado especial
Túnis (Tunísia) - Parceiro do Ministério da Cultura em evento paralelo à Cúpula Mundial da Sociedade da Informação, o artista italiano Michelangelo Pistoletto, criador do projeto Love Difference (ame a diferença, em inglês), diz que o Brasil pode ter papel de destaque no que ele chama de "sulização" do mundo. "O hemisfério Sul, que sempre esteve do lado de baixo do globo, tem de vir para cima. Precisamos de um novo sistema que mova o mundo", diz ele. "Digo isso porque, nós, da Itália, como estamos no meio, podemos ver os dois lados", brinca.
Pistoletto espera participação brasileira para formar uma rede mundial em prol do que ele chama de "Terceiro Paraíso". O conceito é aplicado pelo artista em suas obras, que já foram expostas, entre outros locais, na Bienal de Veneza. Para Pistoletto, o primeiro paraíso foi o da natureza. O segundo teria sido o artificial, criado pelo homem, à custa de perturbações ecológicas. "O terceiro paraíso será forjado pelo homem a partir das novas tecnologias e deverá recuperar o equilíbrio de sua relação com a natureza", explica.
"Não se pode trazer democracia ao mundo apenas por meio do consumo. Isso só vai criar conflitos e mais conflitos", afirma. "Todos querem democracia, mas não essa que vem sendo oferecida", diz.
O palácio quatrocentista árabe onde se desenrolam as atividades paralelas à cúpula, no bairro histórico de Túnis, está repleto de referências às obras de Pistoletto e aos projetos da Love Difference. O Brasil montou um "laboratório de conhecimentos livres", baseado em um conjunto de equipamentos digitais para produzir áudio, vídeo e reciclar computadores. São atividades aplicadas no projeto Pontos de Cultura. O método poderá ser reproduzido em projetos do Love Difference em toda a área do Mediterrâneo.
"A tecnologia por si só é importante, mas não é suficiente. O importante é a mensagem", diz Pistoletto. Para ele, o artista deve colocar seu trabalho em conexão com a política e a economia, tanto como com a espiritualidade ou a inspiração. O encontro com os brasileiros em Túnis, diz o artista, é um importante espaço de conjunção. "Sei que, política e artisticamente, o ministro Gilberto Gil pensa desse jeito", diz.
Michelangelo Pistoletto já foi premiado no Brasil, na Bienal de São Paulo de 1968, mesmo ano em que divulgou em Veneza o manifesto da "Colaboração Criativa". O artista também é reconhecido como doutor honoris causa em Ciência Política pela Universidade de Turim, segundo biografia fornecida pela Fundação Pistoletto.