Professor diz que critérios raciais não são adequados para privilegiar pessoas

17/11/2005 - 5h10

Adriana Franzin
Da Agência Brasil

Brasília – O professor de história Universidade Estadual do Rio de Janeiro, José Roberto Pinto de Góes, disse que não acredita que critérios raciais sejam adequados para privilegiar determinadas pessoas. Para Góes, não há racismo no Brasil, mas uma tendência a conferir, cada vez mais legitimidade ao conceito de raça.

Góes fez as afirmações ao criticar, no programa Diálogo Brasil, o sistema de cotas. "Raça é uma idéia equivocada, ‘desinteligente’ e que só se presta à crueldade. Me preocupa muito quando vejo uma série de iniciativas que procuram levar os cidadãos a reconhecer marcas raciais", disse em relação às políticas de ação afirmativa, como a de inclusão de negros nas universidades.

No estúdio da TV Nacional, em Brasília, o professor de filosofia e presidente da Associação dos Docentes da Universidade de Brasília, Rodrigo Dantas, disse que as políticas de ações afirmativas são a melhor ação para resgatar a população de afro-descendentes que vivem em territórios com baixos índices de desenvolvimento humano. "Ou a gente cria condições para um processo político de transformação profunda da civilização humana ao longo do século ou a gente vai terminar em uma situação dramática".

Também no estúdio da TV Nacional, a ministra Matilde Ribeiro, da Secretaria Especial de Políticas de Promoção de Igualdade Racial, afirmou que não houve uma medida de inclusão que absorvesse os trabalhadores negros na época da abolição e essa situação não se alterou até hoje. Para ela, esse processo é um "vício histórico". Matilde defendeu "uma campanha intensa, por parte do governo, no diálogo com o empresariado brasileiro, valorizando a diversidade do Brasil, mas, acima de tudo, mudando as regras, as posturas, as formas de contratação e de absorção da mão de obra, considerando o histórico de aprendizado da população negra que foi escravizada e também evoluiu com o desenvolvimento no Brasil". Em resposta ao professor José Roberto Pinto de Góes, a ministra citou uma frase do sociólogo Florestan Fernandes: "O Brasil é um país que tem preconceito de ter preconceito".

O presidente da Afrobras - Sociedade Afro-Brasileira de Desenvolvimento Sócio-Cultural, José Vicente, ressaltou no estúdio da TV Cultura, em São Paulo, o valor da cultura negra. "A religiosidade e todos os bens culturais dos negros têm que ser compreendidos como patrimônios da nação", afirmou.

Os debates do Diálogo Brasil são mediados pelo jornalista Florestan Fernandes Júnior. O programa é transmitido ao vivo para todo país, sempre às quartas-feiras, das 22h30 às 23h30. Os telespectadores podem participar enviando perguntas e sugestões pelo e-mail dialogobrasil@radiobras.gov.br e pelo telefone (61) 3327-4210.