Exclusão digital de mulheres pode ter origem em fatores biológicos e culturais

17/11/2005 - 16h21

Márcia Detoni
Enviada especial

Túnis (Tunísia) – Diferenças biológicas no padrão de raciocínio do homem e da mulher têm sido apontadas por vários cientistas como a principal razão para a exclusão digital das mulheres. Alguns estudos clínicos mostram que homens e mulheres tendem a processar a fala em diferentes áreas do cérebro. Além disso, algumas pesquisas indicam que homens apresentam melhor desempenho em raciocínio matemático e espacial, enquanto mulheres são mais competentes na execução múltipla de tarefas e em achar soluções criativas para os problemas.

Dados colhidos nos Estados Unidos e na Europa mostram, no entanto, que fatores culturais também têm forte influência na formação das mulheres. O modo como as mulheres são educadas desde criança acaba desestimulando a participação ativa e confiante em setores masculinos, como ciência e tecnologia.

"Não se tem certeza se as diferenças são uma imposição cultural ou uma condição biológica imutável", diz um relatório sobre a participação das mulheres no setor de TIC distribuído em Túnis pela ONU. "Mesmo assim, a maior de todas as barreiras é a falta de conhecimento sobre os diversos tipos de trabalho na indústria de TIC. As mulheres deveriam estar cientes da diversidade de funções no setor: desenvolvimento de programas de computador, análise de negócios, gerenciamento de projetos, webdesign e marketing", diz o relatório.

Uma pesquisa feita em 2003 na Costa Rica mostrou que as mulheres representavam 60% dos estudantes universitários e os homens, 40%. Mas, nos cursos de tecnologia, 78% dos alunos eram homens e 22% mulheres. Entre os proprietários de empresas de TICs, apenas 7% eram do sexo feminino, e, entre os funcionários, apenas 10%, sendo que a maioria das mulheres trabalhava como secretaria ou digitadora.

O movimento de mulheres vem fazendo campanhas, nos últimos anos, por uma maior participação feminina em funções técnicas - como desenvolvimento de programas de computadores e desing de websites - e pela ascensão das mulheres a postos de liderança no setor. Depois de grande esforço de convencimento diplomático, as ativistas conseguiram que a declaração final da Cúpula Mundial da Sociedade da Informação em Tunis incluísse a necessidade de os países desenvolverem a capacitação e a autoconfiança das mulheres nessa área.