Érica Santana
Repórter da Agência Brasil
Brasília – A discriminação de gênero e raça é uma das principais causas da desigualdade e da exclusão social no Brasil. E é no mercado de trabalho que as diferenças se acentuam. As mulheres, principalmente as negras, têm mais dificuldade para entrar e se estabelecer no mercado de trabalho.
É o que mostra o estudo sobre trabalho doméstico realizado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) em parceria com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômico (Dieese), divulgado nesta hoje.
O estudo Retrato das Desigualdades informa ainda que em média o salário das mulheres negras equivale a apenas 30% do rendimento dos homens brancos. Ele também foi apresentado hoje pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher (Unifem).
De acordo com dados da Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílio (PNAD, 2001) no Brasil, o trabalho doméstico emprega seis milhões de pessoas – e é a principal porta de entrada para as mulheres negras no mercado. Segundo os dados, quatro em cada 100 mulheres negras trabalhadoras são empregadas domésticas.
O estudo foi realizado em Belo Horizonte, Distrito Federal, Porto Alegre, Recife, Salvador e São Paulo e mostra que em todas as capitais a quantidade de trabalhadoras domésticas negras é superior a de brancas, em todos os casos chega pelo menos ao dobro.
Em Salvador, onde mais de 80% da população é negra, o número é três vezes maior: 22% das mulheres negras são domésticas – 6% é branca. Em Porto Alegre, cidade como menor índice populacional negro (11%), esse número chega a 32% em comparação aos 13% de mulheres brancas que exercem um emprego doméstico.
Para a supervisora técnica do Diesse do Distrito Federal, Liliam Arruda Marques, é preciso dar visibilidade ao problema da discriminação racial no mercado de trabalho."Temos que explicitar essa discriminação para criarmos políticas no sentido de diminuir o preconceito", afirmou. Ela acrescentou também que a seleção de trabalhadores deve ser modificada. "A contratação ainda é muito discriminatória, principalmente no setor privado."
Os dados também indicam que as mulheres negras continuam ganhando menos que as mulheres não-negras (brancas ou amarelas). Em São Paulo, a diferença entre o rendimento médio por hora das trabalhadoras domésticas brancas é 3,3% superior ao das negras; em Porto Alegre é 4,7%.
Para Denise Pacheco, gerente de projeto da subsecretaria de ações afirmativas da Secretaria Especial de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), as informações revelam espaço reservado à mulher negra no mercado.
"Esses dados demonstram o que o período colonial deixou para a sociedade. O lugar das mulheres negras, objetivamente, é o trabalho doméstico. Dá para perceber nos dados que essa discriminação é de raça, de gênero e de classe. Essas desigualdades são seculares. São oriundas do período que essa população negra foi discriminada no país", observou.
Ela afirma ainda que a longo prazo as política afirmativas tendem a reduzir essas desigualdades.