Rio, 9/11/2005 (Agência Brasil - ABr) - O projeto de integração do Rio São Francisco às bacias hidrográficas do Nordeste é um dos temas em debate durante o 8º Encontro de Gestão Empresarial e de Meio Ambiente (Engema) que a Fundação Getúlio Vargas (FGV) promove até domingo (13). O seminário reúne desde hoje (9) técnicos de órgãos ambientais e de saneamento para discutir questões ligadas à gestão ambiental, como uso racional da água e coleta seletiva do lixo.
Para o professor de desenvolvimento sustentável José Antônio Puppim, da Escola Brasileira de Administração Pública da FGV, o projeto que prevê de integração das águas do rio deveria ser discutido pela sociedade com maior profundidade, antes de qualquer ação do governo. "Essa medida pode afetar a sustentabilidade do rio, trazendo impactos importantes no futuro. Os desdobramentos para as comunidades ribeirinhas não estão sendo discutidos. A distribuição da água para a população, por exemplo, é uma questão que ainda precisa ser estruturada. E isso envolve negociação, recursos e análises específicas", afirmou.
O professor disse temer que o projeto de integração acabe como muitos outros, que previam grandes obras e inúmeros benefícios, mas não conseguiram surtir os efeitos esperados por falta de planejamento amplo: "Executando esse projeto como está agora, as pessoas vão continuar passando sede porque os desdobramentos indiretos, como levar a água do canal até a população não foram calculados".
Para Puppim, a realização da integração neste momento contraria o princípio da precaução, definido durante a Rio 92 (conferência global sobre meio ambiente realizada no Rio de Janeiro em 1992). "Se há controvérsias fortes na sociedade sobre um determinado assunto, é preciso realizar mais debates técnicos e políticos até que se tome uma decisão definitiva", afirmou.
Já o professor de química e meio-ambiente Raimundo Damasceno, da Universidade Federal Fluminense, que também participa do seminário da FGV, disse acreditar que o projeto de integração vai "resolver o problema de segurança hídrica da região, prejudicada por uma estrutura cristalina presente no solo dos estados do Rio Grande do Norte, Pernambuco, Ceará e Paraíba, que impede a formação de lençol freático – camada de água que fica sob o solo". Esse tipo de estrutura geológica, explicou, provoca o escoamento de toda a água da chuva para o mar e não permite a formação de rios perenes na região, favorecendo o quadro da seca.
Damasceno defendeu que o projeto, além de "matar a sede" de boa parte da população rural e urbana, gera empregos. "Muitas críticas são baseadas na afirmação de que a água não vai chegar à população rural, só vai para as capitais. É preciso lembrar que 80% da população, atualmente, já vive nos centros urbanos. Além disso, a água pode ser utilizada com fins industriais, favorecendo a geração de novos empregos", afirmou.