Moradores de rua reivindicam revisão da estrutura de albergues

02/09/2005 - 21h17

Michèlle Canes
Da Agência Brasil

Brasília - Muitos moradores de rua buscam nos albergues de suas cidades um lugar para recomeçar a vida, mas muitas vezes o que encontram são locais precários e lotados. A reconstrução e revisão da estrutura desses albergues é uma das reivindicações feitas durante o primeiro Encontro sobre a População em Situação de Rua, realizado ontem e hoje em Brasília.

Paulo Ivan Moreira, representante do Fórum da População em Situação de Rua de São Paulo e usuário do serviço de albergues, conta que os espaços estão superlotados e sem estrutura. "Sempre tem muito usuário, pouco espaço para alimentação, filas. O que o pessoal acha inadequado é ter mais de 100 pessoas, às vezes 250 e até 1.200, em alguns deles", disse. Por isso, acrescentou, são constantes a brigas entre usuários, inclusive com casos de mortes. "E muitos preferem ficar nas ruas a ir para albergues", contou.

Sebastião Nicomedes, que hoje participa do programa Moradia Provisória, em São Paulo, já foi usuário de albergue. E revela que quando termina o tempo de permanência nos abrigos – de um a seis meses – faltam opções. "Ou se volta para a rua ou se procura outro albergue. Quando chega lá, a gente constrói sonhos, compra roupa, sapato, se inscreve em frentes de trabalho e espera conseguir alguma coisa. Se nada disso acontece, perde-se a auto-estima também", conta. E lembra que as vagas fixas são muito difíceis, os moradores de rua geralmente não chegam a procurar um albergue por terem ouvido que "não adianta", de quem já passou por um deles.

No programa Moradia Provisória, Nicomedes mora em uma casa que funciona como "república" e paga R$ 25 como colaboração para material de limpeza e gás. "A gente gerencia a casa. É diferente do albergue porque se passa a ter a chave, sem controle de horário, mas com controle da sua vida". Neste sistema, é possível passar até um ano na casa. Se o usuário não conseguir emprego ou outro lugar para ficar, tem que voltar para o albergue.

Segundo Nicomedes, o mais difícil é reconstruir a vida: "Você tem 30, 40 ou 18 anos de história de vida, mas apenas seis meses para refazê-la".