Cientista diz que reforma política é apenas o primeiro passo para mudanças

10/08/2005 - 21h25

Gabriela Guerreiro
Repórter da Agência Brasil

Brasília - A reforma política em tramitação na Câmara dos Deputados não será, por si só, capaz de solucionar os problemas estruturais do sistemas políticos brasileiros. Na opinião da presidente da Associação Brasileira de Ciência Política, Maria Hermínia Tavares de Almeida, mudanças no sistema político não são suficientes para o país combater essa problemática. "Eu não acredito que existam reformas políticas que resolvam isso, porque os sistemas políticos enfrentam distintos problemas em distintos momentos", disse.

Maria Hermínia ressaltou que a reforma não será capaz de reduzir a corrupção no sistema político, como se configura atualmente. "Não acredito que o financiamento público de campanha resolva a questão da corrupção. O que minimiza esse problema são conjuntos de mecanismos, desde esses de imprensa alerta, sociedade alerta, até os que têm a ver com Polícia Federal, Receita Federal e coisas desse tipo", afirmou.

A cientista política ressalvou, no entanto, que a reforma pode ser um começo para mudanças no sistema eleitoral. Mas criticou o que chama de "depuração" da reforma política em discussão na Câmara. "A reforma começou na década de 90 como uma grande reforma que ia transformar o presidencialismo em parlamentarismo, ia mudar o sistema eleitoral, e hoje ficou com agenda mínima", disse. Ela reconheceu que, no modelo atual, a reforma política tem mais chances de ser aprovada pelos parlamentares. "É mais provável aprovar essa reforma do que uma que muda tudo", disse.

Na opinião de Maria Hermínia, não existem sistemas políticos imunes à corrupção: "Nós vemos isso não apenas em países menos desenvolvidos. Os problemas de corrupção dificilmente podem ser resolvidos com reformas, ainda que alguns mecanismos possam minimizar essa prática".

O fortalecimento dos mecanismos de vigilância, segundo Maria Hermínia, são a saída para reduzir a corrupção em países como o Brasil. "O sistema político vai se decantando não só com reformas, mas com a experiência, com a prática, e sobretudo com muitos mecanismos externos de vigilância. Muitos mecanismos que dêem sinal de alerta quando algo vai mal, quando alguma conduta não corresponde às regras, e daí por diante. Nem tudo pode ser resolvido com mudanças instituicionais", afirmou.