Transparência Brasil cobra ''ação política mais aguda'' do governo diante de denúncias

10/06/2005 - 16h21

Juliana Andrade e Marcela Rebelo
Repórteres da Agência Brasil

Brasília - O diretor-executivo da organização não-governamental (ONG) Transparência Brasil, Cláudio Abramo, cobrou uma ação política mais rápida e efetiva do governo federal diante da crise política iniciada com denúncias de irregularidades na Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT). As declarações foram feitas durante o encerramento do 4º Fórum Global de Combate à Corrupção. "Não sou analista político, mas, aparentemente, a ação política precisaria ser mais veloz, responder mais rapidamente aos estímulos que o ambiente está colocando. Há carência de ação política mais aguda, o tamanho da crise não é pequeno."

Ele elogiou a decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de colocar a reforma política na agenda do governo, mas salientou que são necessárias outras medidas, como a divulgação da lista de funcionários que ocupam cargos de confiança. "Quando se faz uma negociação política com um partido para obter apoio no Congresso, a contrapartida pelo apoio no parlamento é a concessão de cargos na administração. Esses cargos não são ‘a diretoria de cortinas e tapetes’, é a diretoria de tecnologia, de engenharia, de compras porque são nesses lugares que se fazem negócios", disse.

O diretor lembrou que, muitas vezes, os funcionários indicados por partidos políticos não estão comprometidos com o programa de governo, mas "com seus próprios interesses gerando muito estímulo, muita tentação à corrupção".

Apesar das críticas, Cláudio Abramo disse que os problemas decorrentes de indicação para cargos de confiança não ocorrem apenas no governo Lula. "Esse tipo de situação acontecia no governo passado, no anterior, acontece com os governos estaduais e municipais. É uma realidade dada".

Ele disse que, no que se refere ao combate à corrupção, um dos diferenciais do governo Lula é o trabalho da Controladoria-Geral da União (CGU). No entanto, segundo Abramo, "a CGU não tem autoridade sobre os ministérios" e, por isso, muitas vezes, as recomendações contidas nos seus relatórios não são seguidas.

O subcontrolador-geral da União, Jorge Hage, também participou da entrevista e esclareceu que os relatórios da CGU também são encaminhados ao Ministério Público da União e ao Tribunal de Contas da União. Dessa forma, segundo Hage, os ministérios poderão sofrer "conseqüências concretas" caso não sigam as recomendações da CGU.

O ministro Waldir Pires, da controladoria-geral da União, também rebateu as críticas de Abramo. Segundo Pires, o governo federal adotou uma "atitude firme" diante das denúncias recentes do presidente do PTB, Roberto Jefferson, que é acusado de comandar um suposto esquema de pagamento de propina para favorecer empresas em licitações dos Correios. Nesta semana, ele afirmou ter tomado conhecimento, por intermédio de diversos parlamentares, de que o tesoureiro do PT, Delúbio Soares, pagava uma mesada de R$ 30 mil para deputados do PP e do PL.. "Imediatamente ele (o presidente Lula) pediu a implantação de uma auditoria e também uma investigação pela Polícia Federal", afirmou o ministro.