Thaís Brianezi
Repórter da Agência Brasil
Manaus - Um mês e meio depois da homologação da reserva indígena Raposa Serra do Sol, continua tensa a relação entre os produtores de arroz de Roraima e o governo federal. O presidente da Associação de Produtores de Arroz do estado, Luiz Faccio, afirmou que a manifestação que bloqueou a rodovia BR-174 ontem (2) foi um recado para o presidente Lula. "A política dele é errada. Em nome dos ambientalistas e dos indígenas, que escondem interesses internacionais, o governo federal está desestabilizando a produção do estado. Nós iremos permanecer nas terras que hoje ocupamos, por bem ou por mal".
Pelo decreto presidencial que homologou a terra indígena Raposa do Sol, com 1,7 milhões de hectares, os não-indígenas têm um prazo de doze meses para desocupar a reserva. Nela vivem 15 mil indígenas das etnias Macuxi, Taurepang, Wapixana, Ingarikó e Patamona.
O coordenador do grupo executivo do conselho gestor das ações do governo federal em Roraima, Najib Lima, avalia que um ano é tempo suficiente para que os produtores deixem o chamado Polígono dos Arrozais, no sul da reserva. "Eles recusaram a área identificada a partir de um levantamento realizado em 2003. Será que no estado só existe essa área hoje ocupada por oito grandes produtores?".
No dia 6 de maio, um Grupo de Trabalho Intergovernamental foi criado para propor medidas relativas à destinação dos cinco milhões de hectares de terras matriculados em nome do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) para o governo estadual. O governo de Roraima e o governo federal têm até o dia 5 de julho para chegar a um acordo.
Najib destaca ainda que o Ministério dos Transportes anunciou há quinze dias um investimento de R$ 59,972 milhões para o estado em 2005 – destes, R$ 8,2 milhões já estão empenhados. A verba deverá ser usada na recuperação da rodovia BR-174, na construção de um anel viário em Boa Vista, na recuperação das rodovias BR-401 e BR-432 e na construção de dois terminais fluviais em Caracaraí e Santa Maria do Boraçu.
Arrozeiros, pecuaristas, madereiros e assentados mantêm, no entanto, os protestos contra a homologação da reserva. Ontem, durante uma manifestação no escritório do Incra em Boa Vista, o presidente da Central de Assentados de Roraima, Antônio da Silva, deu um soco no rosto do superintendente João Batista dos Santos. O agressor foi levado pela Polícia Federal e liberado em seguida. A polícia fez o termo ocorrência, mas ainda não abriu inquérito para apurar o caso.